Título: EM PERNAMBUCO, ASSUNTO DE FAMÍLIA
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 12/02/2006, O PAÍS, p. 3

Presidente do Tribunal de Justiça demite a filha e desembargadores seguem exemplo

RECIFE. Pouco antes de assumir a presidência do Tribunal de Justiça de Pernambuco, na última quinta-feira, o desembargador Fausto Freitas teve o cuidado de exonerar a filha Cláudia Gueiros de Feitas, que ocupava cargo de confiança como assessora jurídica. Com ela foram demitidos mais três parentes. Freitas antecipou-se ao que determina a resolução número 7 do Conselho Nacional de Justiça, que estipulou o próximo dia 14 como prazo para a exoneração de parentes de até terceiro grau dos magistrados que tenham sido nomeados para cargos comissionados. Freitas não concorda com a decisão do CNJ, mas admitiu que tomou a iniciativa para dar exemplo e evitar pressões dos colegas. ¿ Essa matéria deveria ser tratada pelo Congresso e não pelo CNJ. Mas se o Congresso não se manifesta e o Supremo Tribunal Federal não decide, vou cumprir o que diz a resolução ¿ disse Freitas, que pediu aos colegas que devolvam formulários distribuídos pelo antecessor, Macedo Malta, com o objetivo de mapear parentes da cúpula do tribunal e facilitar as exonerações. Cláudia disse que concordou com a demissão e que a decisão do pai não foi unilateral: ¿- Foi tudo resolvido em família. Achamos que seria melhor que os parentes fossem exonerados para deixá-lo à vontade para agir de acordo com o que determina a resolução. Vai ser um trabalho hercúleo e não sei como ele vai suprir de imediato a demanda de serviços que eram executados por essas pessoas ¿ afirmou Cláudia. Até a tarde da última sexta-feira, somavam dez os parentes de desembargadores exonerados de cargos comissionados. Além de Freitas, também se anteciparam os desembargadores Leopoldo de Arruda, Frederico Ricardo de Almeida Neves e Bartolomeu Bueno, que demitiu o maior quantidade de parentes, cinco: a filha, um sobrinho, um primo e dois sobrinhos da mulher. ¿ Legalmente os sobrinhos de minha esposa não são nem sobrinhos. Mas a iniciativa se deveu a uma decisão de família, que estava se sentindo constrangida em permanecer nos cargos. Todos eram habilitados para os serviços que executavam. Não digo que a resolução esteja correta. Apenas cedi a pressões da família ¿ admitiu Bueno, que na última sexta-feira, concedeu liminares a dois mandados de segurança contra a resolução antinepotismo. Único tribunal de justiça do país onde o nepotismo foi investigado por uma pesquisa com rigor científico, sob responsabilidade da Fundação Joaquim Nabuco, o de Pernambuco acusava no final do ano passado que, dos 382 cargos comissionados, 127 eram ocupados por parentes de desembargadores e juízes. A lista não parava de crescer e, pouco depois da resolução do CNJ, mais 30 foram contratados.