Título: COTAS DARÃO MAIS VAGAS A ESTUDANTES PARDOS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 12/02/2006, O PAÍS, p. 8

Dados do IBGE que serão usados para reserva de vagas mostram que só 5,9% dos brasileiros são negros

BRASÍLIA. O projeto que cria o sistema de cotas nas universidades federais vai criar uma reserva de vagas maior para pardos do que para negros e índios, se for sancionado como foi aprovado na quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Pelo projeto, as vagas serão divididas respeitando-se a distribuição percentual por cor e raça de cada estado apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, 41,4% da população é parda, 5,9% é negra e 0,6% indígena e amarela, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2003, feita pelo instituto. Negros, pardos, índios e estudantes da escola pública teriam direito a cerca de 62 mil vagas, ou metade das 123.959 vagas oferecidas hoje pelas universidades, faculdades e centros federais técnicos de educação, os Cefets. E 29.326 iriam para negros e pardos. O texto aprovado na CCJ prevê a implementação das cotas em quatro anos. Em 19 estados, mais da metade das vagas será destinada a estudantes que se declaram pardos. Pelo IBGE, a grande maioria da população nas regiões Norte e Nordeste é dessa cor. No Piauí, os pardos representam 73% da população; em Roraima chega a 72,6%; Pará, 72%. Mas na soma de negros e pardos, a Bahia é o estado com o maior percentual, 78,5% da população. Os estados com o menor percentual de negros e pardos são os do Sul. No Rio Grande do Sul, só 13,5% da população se declaram dessa cor. Em Santa Catarina, a soma da população das duas cores é de 10,4%. No Paraná, 24,7% são negros e pardos. Nessa região, com menos de 1% de índios entre sua população, a grande maioria das vagas do programa de cotas será destinada destinada a alunos brancos das escolas públicas. Os brancos, em cada um desses três estados, atingem 80%.

Paulo Renato defende reforço no pré-vestibular

A adoção do programa de cotas divide educadores. Paulo Renato, ministro da Educação no governo Fernando Henrique Cardoso, disse que na sua gestão, o governo adotou outra política para facilitar o acesso de alunos carentes. ¿ Um caminho melhor foi o de investir no pré-vestibular. Conseguimos, junto ao BID, uma linha de US$10 milhões para financiar cursinhos para alunos carentes e minorias ¿ lembra. A Universidade de Brasília (UnB) há dois anos destina 20% das vagas para negros. Foram distribuídas quase mil vagas para esses alunos, em quatro vestibulares. O reitor Thimothy Mulholland afirmou que o desempenho desses alunos é semelhante aos que entraram na universidade pelo critério universal, que é o vestibular: ¿ Há uma crise social de exclusão desses jovens. Se restringirmos o acesso deles à universidade, poderemos ter uma conflagração. A educação superior não foi feita para poucos ou para gênios. O mundo inteiro escancarou suas universidades no século XX. Só o Brasil que não ¿ diz Mulholland, para quem as cotas poderiam ser implementadas nas universidades mesmo em apenas dois anos .