Título: EX-PRESIDENTE LANÇA MAIS DUAS OBRAS
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 12/02/2006, O PAÍS, p. 9

FH afirma que proximidade da campanha poderá distorcer a leitura

NOVA YORK. O ex-presidente faz uma reestréia como escritor com o lançamento de três livros nos próximos meses, justamente na época da campanha eleitoral, o que, reconhece ele, vai alterar a forma como os textos serão lidos. No fim de março, além da autobiografia para o público americano, sairá no Brasil quase simultaneamente ¿A arte da política¿, um livro de mais fôlego, com 600 páginas, editado pela Record. Deveria ter como base os registros gravados diariamente por Fernando Henrique na época da Presidência, mas a documentação foi deixada de lado porque era grande demais ¿ são 4 mil páginas de transcrição só das gravações do primeiro mandato. Consultou-as apenas em alguns momentos, como, por exemplo, ao abordar as acusações de ter comprado votos para a Câmara aprovar o projeto permitindo a reeleição. No livro, Fernando Henrique reconhece que deve ter havido mesmo conversas sobre compra de votos, mas reclama que as pessoas se esquecem que governadores e prefeitos de todo o Brasil tinham interesse nessa mudança constitucional. ¿ No governo federal não houve nada, mas provavelmente aconteceu nos estados longe de Brasília. A partir daí o PT começou a martelar a compra de voto. O Lula foi até dizer isso ao FMI: ¿É uma pena que ele tenha comprado voto para a reeleição¿. Sei disso porque eles foram me pedir explicações ¿ relembra.

Em ¿A arte da política¿, privatizações e brigas

Mais analítico do que o livro americano, ¿A arte da política¿ também trata do apagão, do escândalo da privatização da telefonia, das brigas com o senador Antonio Carlos Magalhães, da pilha de dinheiro descoberta em 2002 no escritório da então candidata à Presidência Roseana Sarney. ¿ Não é um livro de fofoca, de bastidor. Mas não adianta fazer um livro que não aborde os temas relevantes. Não fujo dos temas sensíveis, mas não estou me vingando nem botando ninguém no pelourinho. Saindo em plena campanha, vai ser distorcido, é inevitável, não adianta ficar nervoso. O terceiro lançamento, previsto para daqui a dois meses, são conselhos a um jovem que quer entrar na política e, segundo o presidente é o mais simples de todos, uma coletânea de entrevistas. Fernando Henrique conta que foi uma ¿loucura¿ ter trabalhado simultaneamente em três textos tão distintos. ¿ As idéias fundamentais são sempre as mesmas, os estilos são diferentes. Fui presidente mas não deixei de ser sociólogo. Às vezes misturo os dois, mas nos livros não estou pregando. Político quer convencer os outros, nos livros eu mais explico do que tento justificar as coisas ¿ diz.