Título: PT: SACRIFÍCIO PARA ATRAIR O PMDB NOS ESTADOS
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 12/02/2006, O PAÍS, p. 12

Partido admite abrir mão de candidaturas e apoiar peemedebistas para garantir o apoio à reeleição de Lula

SÃO PAULO. Na tentativa de atrair o PMDB para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT está disposto a abrir mão de candidaturas próprias em favor do partido em nove estados. Em outros quatro pode apoiar candidatos de outros partidos. Também está disposto a ceder os cargos de vice-governador e apoiar candidatos do PMDB ao Senado em vários estados. Até o senador Eduardo Suplicy (SP), um dos nomes mais populares do PT, corre risco de perder a vaga como candidato à reeleição. ¿ O PT deve fazer um esforço sobrenatural para trazer o PMDB, com cuidado para não atropelar a discussão interna deles¿ disse o terceiro vice-presidente do PT, Jilmar Tatto. ¿ Com a queda da verticalização, o PMDB é a noiva da vez. Agora, em festa de canarinho urubu também entra ¿ disse o secretário de Organização, Romênio Pereira. Na última semana o GLOBO ouviu dirigentes, parlamentares e líderes do PT. O resultado é um mapa sujeito a mudanças, mas que mostra a disposição em sacrificar projetos próprios para atrair aliados para a reeleição de Lula. Em pelo menos quatro estados, o PT caminha para alianças com o PMDB, mas o número pode chegar a oito. No Amazonas, o PT deve apoiar Eduardo Braga. No Paraná, Roberto Requião. Em Goiás, Maguito Vilela e em Alagoas, Renan Calheiros, caso o senador confirme a candidatura. O PT tem o desejo de se aliar a Hélio Costa em Minas. Segundo líderes do estado, uma chapa formada por Costa para o governo com um vice do PT, José Alencar (PRB) para o Senado e o apoio do PTB do ministro Walfrido dos Mares Guia (Turismo), daria trabalho ao tucano Aécio Neves. Se a costura não vingar, o PT pode lançar novamente Nilmário Miranda ao governo.

Em São Paulo, PT pode apoiar Quércia ao Senado

Na Paraíba, o PT pode se aliar a José Maranhão, ligado ao senador Ney Suassuna, aliado do Palácio do Planalto. Há quem defenda aliança com o tucano Cássio Cunha Lima. No Pará, depois do abalo do ex-deputado Paulo Rocha, que antes do mensalão era nome certo na disputa, o PT conversa com o PMDB de Jader Barbalho. Mas a senadora Ana Júlia continua no páreo. Depois de rejeitar aliança com o PMDB na eleição municipal em 2004, o PT de São Paulo agora não mede esforços para atrair o partido. Na semana passada, um dirigente propôs que o PT ofereça o cargo de vice ao PMDB do ex-governador Orestes Quércia (que lidera as pesquisas para o governo do estado). Caso ele não aceite, o PT ofereceria apoio à candidatura de Quércia ao Senado. Suplicy se candidataria a deputado federal. Perguntado sobre o assunto, Jilmar Tatto respondeu: ¿ Tem vários elementos, a questão do Senado, a vice. Mas recuou quando o assunto é Suplicy. ¿ O nome de Suplicy para o Senado é consenso. Existem muitos boatos, até sobre um acordo entre Quércia e o PSDB.

No PMDB, ninguém admite aliança no primeiro turno

Suplicy admite já ter ouvido comentários sobre o desejo de um determinado setor do partido em tirá-lo da disputa. ¿Já ouvi isso. Mas nenhum dirigente confirmou. Sou apenas pré-candidato ao Senado. Se alguém se opuser estou disposto a uma prévia. No PMDB, pouca gente considera a possibilidade de o PMDB apoiar Lula no primeiro turno. ¿ O PMDB decidiu em 2003 que terá candidato próprio. A decisão ainda está valendo e as prévias estão marcadas para o dia 19. Existem duas alternativas: Lula subir assustadoramente nas pesquisas, ou a cristianização da candidatura, a exemplo do que aconteceu com Quércia (1994) e Ulysses Guimarães (1989) ¿ disse o cientista político Gaudêncio Torquato, assessor do presidente do PMDB, deputado Michel Temer. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, disse que tem conversado informalmente com líderes do PMDB e de outros partidos, mas reafirma o respeito ao calendário do PMDB. ¿ Não podemos ser arrogantes, mas também não abrimos mão de conversar. Quanto à possibilidade de sacrificar candidaturas, ele diz: ¿ A política de alianças será definida em abril, no encontro nacional. Mas o PT pode fazer alianças em mais quatro estados: no Distrito Federal, pode se aliar a Agnelo Queiroz, visto como único candidato do PCdoB com chances de vencer. No Maranhão, negocia com Jackson Lago (PDT). Em Mato Grosso as alternativas são a senadora Seris Slhessarenko ou Blairo Maggi (PPS). E no Ceará, um dos maiores colégios eleitorais do Nordeste, o PT está entre a candidatura própria de José Aírton, derrotado em 2002 por apenas 3 mil votos, e Cid Gomes (PSB), irmão do ministro da Integração Regional, Ciro Gomes.