Título: ALEMÃES VÃO DE CARONA NO BIODIESEL BRASILEIRO
Autor: Graça Magalhães-Ruether
Fonte: O Globo, 12/02/2006, ECONOMIA, p. 31

Lá, programa está mais avançado e garante sustento de 900 mil pessoas. Petrobras só assinou contratos este mês

BERLIM. Desde os anos 90, quando o governo alemão resolveu se inspirar no modelo do biodiesel brasileiro, as paisagens alemãs no verão são pontilhadas de grandes campos com flores de um amarelo brilhante. São campos de plantação de colza (canola), a matéria-prima do produto alemão. Cerca de 900 mil pessoas, sobretudo de pequenas propriedades agrícolas e familiares, vivem do cultivo da colza desde que a demanda por biodiesel aumentou devido a isenções fiscais oferecidas pelo governo. No Brasil, no entanto, o programa demorou a deslanchar. Depois de anos de estudo, foi lançado oficialmente em 2004 e, só na semana passada, a Petrobras assinou os primeiros contratos para fornecimento de 500 milhões de litros. Hoje, há na Alemanha quase dois mil postos de abastecimento de biodiesel, que é oferecido em uma bomba anexa à do diesel normal e chama a atenção pelo seu selo verde. Mas o produto ainda é controvertido: há quem garanta que ele causa dano aos motores. Segundo Helmut Lamp, da Federação Alemã de Bioenergia, em 30 anos o biocombustível deverá responder por 30% do que for consumido no país. Os alemães, que estão só começando no uso do bioetanol como substituto da gasolina, já fizeram um bom progresso no biodiesel. Hoje, ele responde por quase 6% do diesel consumido no país. No Brasil, a legislação prevê mistura voluntária de 2% ao diesel comum a partir de 2008. Christoph Dicks, diretor da empresa Biopetrol, que tem refinarias de biodiesel em várias cidades alemãs e na Suíça, diz que o mercado é promissor. No fim do ano passado, a Biopetrol começou a construir uma refinaria em Rostock, no leste da Alemanha, que deverá produzir 200 mil toneladas/ano até o fim de 2007. Em todo o país, são produzidos dois milhões de toneladas. Mas o otimismo dos produtores de biodiesel é limitado: a colza não pode ser plantada infinitamente, pois é usada para regenerar o solo exaurido. O ideal, segundo especialistas, é plantá-la em um terreno a cada três ou quatro anos. Mas os agricultores não vêm seguindo essa regra. Com a expansão da produção de diesel ecológico, o 1,3 milhão de hectares plantados não bastam mais para atender à demanda, pois, com a moda do biodiesel, houve um aumento da procura também dos óleos de cozinha de colza. Uma estratégia das refinarias de biodiesel na Alemanha (são mais de dez) é importar o produto de outros países da Europa e dos Estados Unidos. A União Européia exige que até 2010 todo o diesel consumido nos 25 países do grupo tenha, no mínimo, 5,75% de biodiesel, para ajudar a cumprir as metas do protocolo de Kyoto. Com isso, mesmo quem ainda não dispõe de usina de biodiesel terá de importar o óleo de produtores como a Alemanha. A notícia negativa é que o governo alemão resolveu acabar com a isenção do biodiesel a partir de agosto próximo. Por cada litro de biodiesel, será cobrado um imposto de dez centavos de euro. Pelo litro do óleo diesel com 5% de biocombustível, 15 centavos. O imposto será mais baixo do que o do diesel comum (47 centavos), mas deverá servir de freio para a indústria de biodiesel. O governo anterior, de coalizão social democrata com os verdes, prometera isenção até 2010.