Título: Lula ao PT:menos barulho
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 13/02/2006, O PAÍS, p. 2

Na pajelança que precederá hoje o jantar de aniversário do PT, Lula deve começar a agir para que seja adiado o encontro nacional do partido marcado para 30 de março. Para ele está tudo muito bem assim: não se declarando candidato, faz o melhor que pode pela candidatura. O encontro promete tumultos desnecessários, de vetos a aliados até questionamentos da política econômica.

Outro que contrariou os planos do presidente ao sugerir a antecipação do lançamento da candidatura foi o ministro Palocci, em Moscou. Junho pode ser longe demais, como disse, mas Lula quer chegar o mais próximo possível da data-limite sem roupa de candidato. Em seu círculo, houve até quem enxergasse pressa do ministro em resolver a própria situação: se vai ser coordenador da campanha presidencial, terá que deixar o ministério no fim de março. Se a candidatura só for anunciada em junho, ele ficará até lá sem papel. Esta questão não está decidida, embora Lula tenha apreciado muito a performance de Palocci como político ao enfrentar com habilidade o rosário de denúncias que o atingiu. Depois, ficou com o flanco político desguarnecido com a queda de Dirceu. Jaques Wagner o deixará para disputar o governo da Bahia. E ainda que Palocci dê um bom gerente de campanha, há sempre quem diga que ele mais ajuda ficando na Fazenda. Mas com Palocci tudo se resolve numa conversa. Muito mais complicado hoje para Lula é tourear o PT. A esquerda ficou mais forte e ele não tem com Berzoini nem com a atual direção a mesma relação que já teve com Dirceu e Genoino. Já foi advertido sobre a grande inconveniência do encontro de 30 de março e prometeu agir. Um dos pontos da pauta é a política de alianças. Imagina, diz um escudeiro de Lula, se é aprovado um veto a alianças com partidos como o PTB, o PP e o PL, chamados do mensalão. Eles podem até não se coligar com o PT, mas um veto os empurraria para os braços do adversário. PTB e PP dizem hoje que ficarão ¿solteiros¿ na disputa presidencial. Tem ainda a questão do PMDB. As prévias estão marcadas para 19 de março, mas há um movimento interno pelo adiamento. Por que irá o PT pôr cartas na mesa antes da definição peemedebista? Também está na pauta a elaboração do programa de governo para o segundo mandato, que leva fatalmente à discussão sobre mudanças na política econômica. Por que irá o PT falar agora em redução do superávit se na campanha Lula vai apresentar como trunfo os êxitos de sua política econômica? ¿ pergunta o mesmo articulador. Outro desejo de Lula é o de que o programa partidário de maio seja adiado para junho, para depois da exibição do similar tucano, que deve ter roteiro de guerra e linguagem de metralhadora. Ficando para depois, o próprio Lula já poderia responder ao fogo. Mas em todas estas questões ele terá dificuldades para dobrar um partido que, mesmo apontando sua reeleição como prioridade, parece mais preocupado com a recuperação da imagem perdida, recobrando o porte ético, o rigor na escolha de aliados e até mesmo o padrão financeiro de seus eventos ¿ agora de volta ao tempo das vacas magras, como mostrou reportagem de ontem no GLOBO. O jantar de aniversário de hoje será só para pagantes e o local do encontro de março bem mais modesto que os da era delúbia.