Título: QUEM GANHA E QUEM PERDE
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 13/02/2006, ECONOMIA, p. 14

Professor leva desvantagem

BRASÍLIA. O desequilíbrio da Previdência produz ganhadores ¿ trabalhadores que não contribuíram o suficiente na ativa e recebem aposentadoria. E perdedores ¿ aqueles cujas contribuições do passado acabam bancando o primeiro grupo. Segundo o Ipea, os maiores financiadores do sistema são homens que começam a trabalhar com carteira assinada aos 25 anos e se aposentam por tempo de contribuição, com benefício acima do salário-mínimo. A conta é rateada com mulheres que entram no mercado aos 19 anos e pedem aposentadoria pelos mesmos critérios; e professores homens que começam a contribuir aos 18 anos. Eles perdem porque seus benefícios acabam sendo inferiores ao que teriam direito, considerando o que recolheram. Nesses casos, a rentabilidade fica bem abaixo da usada por fundos de pensão (6% ao ano): 1,6% para os homens; 2,5%, mulheres; e 2,7%, professores. ¿ As reformas não tiveram impacto em redução de despesa e aumento de receita. O foco foi mais distributivo, em que a classe média financia as aposentadorias do trabalhador de baixa renda ¿ disse o autor do estudo, Marcelo Abi-Ramia, ressaltando que parte dos efeitos positivos das mudanças foi anulado pelos ganhos reais do mínimo nos últimos anos. A situação melhora para mulheres (contribuinte individual) que entram no mercado aos 18 anos e se aposentam com um mínimo: retorno de 6,2%. Todas as aposentadorias por idade obtêm rentabilidade acima dessa taxa (reforçando a tese de que é preciso fixar uma idade mínima). E os benefícios rurais e assistenciais (Loas) são totalmente subsidiados. O vendedor Rafael Ramos, pai de um filho, começou a contribuir para a Previdência há um ano e está entre os que pagam a maior conta. Aos 23 anos de idade e salário em torno de mil reais, defende um sistema mais igualitário: ¿ O governo devia estimular todos a contribuírem e não pagar aposentadorias às custas de parte da população. Já a dona de casa Sueli Martins, 62 anos, que contribuiu por 16 anos e acaba de pedir aposentadoria por idade, defende o benefício para todos os idosos: ¿ O governo tem que pagar pelo menos o mínimo porque muita gente trabalhou sem carteira e não teve como contribuir. No Loas há três anos, Jovita Assunção contou que ajudou o marido na roça e nunca recolheu para o INSS: ¿ Todo idoso tem direito. Uso o dinheiro para viver e comprar remédios. Sem discutir o papel da Previdência de distribuir renda, o consultor Marcelo Estevão lembra que é preciso encontrar fontes de financiamento para evitar o sacrifício de alguns segmentos: ¿ O sistema atual não incentiva os mais pobres a darem sua cota de participação, pois eles receberão o mesmo de quem paga durante toda a vida.