Título: Juntos de novo
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 14/02/2006, O PAÍS, p. 2

O presidente Lula e o PT esqueceram não apenas o escândalo estrepitoso que jogou o país numa crise política em 2005. Esqueceram também as rusgas e reclamos recíprocos e em nome da reeleição tratam de se dar as mãos. Há muito pouco tempo queixar-se do PT era um esporte de Lula, que nem votou no primeiro turno das eleições diretas internas do partido. Falar mal do governo e montar armadilhas contra a política econômica também eram práticas correntes no PT, sobretudo à esquerda.

Com o arrefecimento da crise e a recuperação eleitoral de Lula nas pesquisas, os dois lados resolveram deixar queixas e divergências de lado e tratar do que interessa, a reeleição. Pelo menos este era o clima nos encontros que precederam o jantar de ontem pela passagem dos 26 anos do partido. Tanto nas reuniões de dirigentes e expoentes petistas quanto no encontro que tiveram com Lula. - O partido precisa ser revalorizado, vem conseguindo dar a volta por cima e arrumar a casa devastada pela crise. Como o governo também vai bem, é hora de restabelecer a identidade e a parceria. Não existe Lula sem o PT nem vice-versa - diz o governador do Acre, Jorge Viana, que participou das reuniões e da festa. Ele e outros bombeiros atuaram para abortar as cobranças pelo imediato lançamento da recandidatura, o que Lula só pretende fazer o mais próximo possível do prazo limite, em junho. Não tendo mesmo outro candidato, o partido não tem razão para marcar hora. Na mesma linha reconciliadora, Lula desistiu de pressionar pelo adiamento do encontro nacional do partido marcado para 30 de março, embora o considere inconveniente. Outros o farão por ele, embora nesta altura todos considerem difícil mudar a data. Acontecendo o encontro, os temas polêmicos vão aparecer: alianças com outros partidos e rigor fiscal e monetário, por exemplo. Há poucas semanas, Lula e o PT bateram de frente quando foi aprovada a emenda que desverticaliza as coligações. O partido era contra, Lula manifestou-se a favor. Ricardo Berzoini tentou mas não conseguiu alterar a posição partidária. Foi o ponto crítico de um período de progressivo afastamento, durante o qual o presidente queixou-se muito não apenas de Delúbio e José Dirceu. Mas com a perspectiva de mais quatro anos no poder sugerida pelas últimas pesquisas, o pragmatismo falou mais alto e até a esquerda petista pôs a viola no saco. As últimas inserções da propaganda partidária petista que foram ao ar dedicaram-se a defender o governo e suas realizações. Como dizia Ulysses Guimarães, o poder é um afrodisíaco. O presidente Lula e o PT estão de novo juntinhos, ouvindo estrelas e falando em "volta por cima". Falta o de sempre: convencer também o eleitor de que o que passou, passou. Zebral coordena um movimento de intelectuais que apóiam Alckmin.