Título: Prato principal: reeleição
Autor: Cristiane J., Gerson C. e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 14/02/2006, O PAÍS, p. 3

Aniversário do PT, com deputados acusados do mensalão, vira festa de largada da campanha de Lula

Foi em clima de euforia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem à comemoração dos 26 anos do PT, que adotou o slogan "A volta por cima" e se transformou na largada da campanha pela reeleição. Sorridente, Lula ficou mais de meia hora cumprimentando petistas e tirando fotografias com eles. Quando conseguiu chegar ao palco, depois de abraçar e pegar no colo duas crianças, os militantes gritavam: "Um, dois, três, Lula outra vez!" e "Olê, olê, olá, Lula lá, Lula lá!". Estavam presentes deputados do PT acusados de envolvimento no escândalo do mensalão, que ainda aguardam julgamento de seus processos por quebra de decoro, entre eles João Paulo Cunha, Professor Luizinho e José Mentor, todos de São Paulo. O ex-deputado Paulo Rocha (PA), que renunciou para escapar do processo de cassação, também compareceu. Não foram vistos no jantar petistas já punidos no rastro do escândalo que abalou o PT e o governo, como José Dirceu, Delúbio Soares, Silvio Pereira e José Genoino. O deputado Professor Luizinho disse que não teme causar constrangimentos ao partido: - Tenho recebido solidariedade. Todos os companheiros sabem que é luta política. Antes do jantar, o presidente foi informado que a pesquisa do Instituto Sensus encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes, a ser divulgada hoje, aponta considerável melhora em seu desempenho num eventual segundo turno das eleições presidenciais com o tucano José Serra. Lula começou seu discurso dizendo que o encontro tem forte valor simbólico, pois representa a determinação do partido de manter a cabeça erguida. Mais uma vez, não assumiu sua candidatura mas, numa referência indireta ao projeto de reeleição, disse que o bom seria se não houvesse atropelos e lembrou que na política, como na vida, tudo é mais difícil. Voltou a reconhecer os erros do PT e a necessidade de o partido pedir desculpas: - Sempre gostaríamos que as coisas acontecessem sem atropelo, mas imagine o mar sem marolas... não aguentaríamos uma hora. Na política é assim... Sempre tem alguém jogando uma casca de banana, uma pedra para você tropeçar, mas é preciso aprender a lidar com isso - disse, completando: - É preciso aprender, quando erramos, a pedir desculpas. Pedir desculpas é um ato de grandeza. Não podemos execrar os que erraram, porque já diz a sabedoria que errar é humano, só tropeça se der um passo. Muito aplaudido, Lula disse que vai governar até o limite do permitido pela lei e cobrou do PT "vontade de brigar". Ao sair do Planalto para a festa, o ministro Jaques Wagner falou do motivo da alegria. - A festa é de avaliação histórica do PT, mas não deixa de ser motivo de tranqüilidade saber que melhora a cada dia o desempenho do presidente nas pesquisas - disse.

Custo de R$100 mil para arrecadar R$1 milhão

À tarde, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, reuniu-se com governadores, prefeitos e dirigentes do partido para cobrar mobilização e unidade na campanha eleitoral, além de postura mais firme dos petistas diante dos ataques da oposição. Ele disse que o partido tem de reconhecer os erros, mas precisa mostrar que é maior que a crise e rebater críticas com números das administrações, especialmente do governo federal: - É muito importante a participação dos filiados do PT, especialmente dos que têm responsabilidade política executiva. Todos precisam se mobilizar para a disputa, que será acirrada. Contra as pressões de alguns setores por uma definição rápida de Lula, Berzoini reforçou o discurso de que o presidente é o candidato natural do partido, mas que cabe a ele decidir o momento de anunciar a candidatura: - O presidente tem direito de tomar a decisão no momento apropriado. O governador do Acre, Jorge Viana, disse que o PT precisa deixar claro que não repetirá as irregularidades cometidas nas últimas eleições e eventuais erros do governo: - O PT tem que assumir a crise com humildade e tirar lições. É hora de provar que a gente vai ser diferente, corrigir as falhas. Lula foi a atração do jantar do PT no clube da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB). Mesmo sem a ostentação da era do ex-tesoureiro Delúbio Soares, a festa custou cerca de R$100 mil para o PT, segundo o secretário de Finanças, Paulo Ferreira. A previsão era arrecadar cerca de R$1 milhão com a venda de convites com valores de R$200 a R$5 mil. O rombo nas contas do partido ultrapassa R$43 milhões.