Título: MEC NEGOCIA TEMPO PARA IMPLANTAÇÃO DE COTAS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 14/02/2006, O PAÍS, p. 9

Ministério vai ouvir estudantes e reitores para discutir nova proposta e facilitar sua aprovação no Congresso

BRASÍLIA. O Ministério da Educação começou a negociar uma alteração no projeto de cotas raciais para estudantes universitários a fim de facilitar sua aprovação no Congresso Nacional. A solução para a polêmica poderá ser a adoção de um prazo intermediário entre quatro e dez anos para que o sistema de cotas entre integralmente em vigor. O projeto aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara prevê que em quatro anos 50% das vagas nas universidades federais devem ser destinadas a estudantes do ensino público, atendendo também a critério racial para negros, pardos e índios. O governo vai bater o martelo amanhã, numa reunião no MEC com alunos e reitores das universidades federais. A tendência é que o prazo de consenso seja de seis anos. - É preciso desarmar os espíritos para se chegar a um consenso. O ponto de partida pode ser os quatro anos aprovados até dez anos - disse o ministro interino da Educação, Jairo Jorge. Ontem, ele se reuniu com entidades que representam alunos, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), para tratar do assunto. Mas o acordo depende da aprovação da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), contrária aos quatro anos aprovados pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na semana passada. A Andifes defende dez anos, como está na proposta original da reforma universitária enviada pelo MEC para o Congresso. O presidente da UNE, Gustavo Petta, disse que a Andifes é uma aliada nesta causa e que a discussão sobre o prazo de implementação das cotas não pode atrasar a votação do projeto na Câmara. Ele criticou o PSDB e o PFL, que fizeram ressalvas ao projeto e decidiram colher assinaturas para levar a votação do texto para o plenário da Câmara. - O PFL e o PSDB estão politizando o assunto e estão com medo que o programa vire bandeira eleitoral do Lula - disse Petta. O ministro interino lembrou que qualquer que seja o prazo escolhido, a implementação das cotas será imediata, ainda que gradativa. - O efeito de inclusão será imediato. E sem perder o mérito - disse Jairo Jorge.

Dirigente de ONG diz acreditar em consenso

Dirigente da organização não-governamental Educafro, o frei David Santos, que também participou do encontro de ontem, disse acreditar no consenso e afirmou que há divisão dentro da própria Andifes: - O reitor da Universidade de Brasília (UnB, Thimothy Mulholland), por exemplo, acha possível adotar cotas em dois anos. Acho que esse deve ser nosso ponto de partida - disse o religioso. Sérgio Custódio, do Movimento dos Sem Universidade (MSU), também disse estranhar a posição do PSDB e do PFL. Ele lembrou que o projeto original aprovado na CCJ é de autoria de uma parlamentar do PFL, Nice Lobão (MA). - Não se pode esperar muito mais tempo. Não é justo que só uma parcela usufrua do ensino universitário - disse Sérgio Custódio.