Título: DÓLAR FECHA NO MENOR VALOR DESDE ABRIL DE 2001
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 14/02/2006, ECONOMIA, p. 19
Moeda recua 0,51% e já vale R$2,154. Bolsa cai 2,33% e risco-Brasil sobe 1,33%, para 229 pontos centesimais
RIO e BRASÍLIA. Após quatro quedas consecutivas - em que recuou 1,55% - o dólar encerrou os negócios de ontem com a menor cotação em quase cinco anos. A moeda americana caiu 0,51% frente ao real, cotada a R$2,154. É o menor valor desde o dia 10 de abril de 2001 (R$2,138). O novo superávit da balança comercial brasileira - de US$881 milhões na segunda semana de fevereiro - sustentou a venda de dólares pelos investidores, que, diante da expectativa de entrada de recursos de exportadores no mercado, preferiram se desfazer da moeda antes de uma queda mais forte nas cotações. No ano, o dólar acumula desvalorização de 7,94%. Com isso, em apenas dois meses, a moeda já teve mais da metade das perdas registradas em todo o ano passado (12,4%). Pela manhã, o dólar chegou a subir 0,46%, para R$2,175, numa correção de preços após as quedas recentes. No entanto, acabou perdendo força, para encerrar próximo da mínima do dia (R$2,153), apesar dos dois leilões de compra de moeda pelo Banco Central (BC). A autoridade monetária adquiriu dólares à vista por R$2,154 e ainda movimentou US$213,2 milhões no mercado futuro. Para Ricardo Amorim, chefe de pesquisa para a América Latina do banco WestLB em Nova York, é pouco provável que a tendência de queda do dólar seja interrompida a curto prazo. Em relatório enviado a investidores, ele diz acreditar que a cotação do dólar deve recuar ainda mais nas próximas semanas, o que deve auxiliar na queda da inflação e, conseqüentemente, da taxa de juros.
'Focus': sobem as projeções para saldo em conta corrente
Nos demais mercados, o dia foi de correção nos preços dos ativos, após a forte recuperação da semana passada, quando o risco-país, por exemplo, caiu 13,08%. Ontem, o indicador subiu 1,33%, para 229 pontos centesimais, próximo ainda do recorde histórico de 226 pontos. O Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, recuou 0,57%, para 131,85% do valor de face. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 2,33% ontem, puxada pelas ações da Vale do Rio Doce e da Petrobras, que recuaram 2,46% e 1,35%, respectivamente, com a queda do dólar e dos preços das commodities no mercado internacional. A forte e contínua entrada de dólares no Brasil levou o mercado a revisar suas projeções sobre as contas correntes do país -- operações com o exterior como exportações e importações e pagamentos de juros - para 2006, mostrou ontem o relatório semanal "Focus" do Banco Central. Agora, os especialistas estimam saldo positivo de US$9 bilhões, US$1 bilhão a mais do que previam na semana anterior. Para 2007, os cálculos subiram de US$4,50 bilhões para US$5,25 bilhões. A grande responsável continua sendo a balança comercial, que tem estimativas de encerrar este ano em US$40 bilhões, repetindo o desempenho recorde de 2005. Além disso, o Brasil vive momento de forte liquidez internacional, com investidores de fora interessados no mercado local, que oferece juros elevados. Essa enxurrada de dólares levou ainda o mercado a revisar para baixo, pela terceira semana consecutiva, as projeções para o câmbio. O mercado espera que a moeda esteja cotada a R$2,30 em dezembro, menos que os R$2,35 calculados na semana anterior. - O mercado está considerando risco zero para a eleição e, a partir do fim de março, isso pode mudar e refletir-se numa subida do câmbio. Nada estrutural, mas será o risco da volatilidade - disse o diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, referindo-se ao período das primeiras definições para as eleições presidenciais de outubro.