Título: CONSELHO DA ONU ANALISA CRISE
Autor: Roberta Jansen
Fonte: O Globo, 14/02/2006, O MUNDO, p. 24

Amorim telefona para Préval e Desmond Tutu e faz apelo por calma

BRASÍLIA e NOVA YORK. O Conselho de Segurança da ONU se reúne hoje para tratar da crise do Haiti e, em nota, vai fazer um apelo à calma, pedindo que o resultado das eleições seja respeitado por todos os haitianos. Ontem, os diplomatas brasileiros estavam negociando o texto da declaração a ser lida pelo atual presidente do conselho, o embaixador dos Estados Unidos, John Bolton. - Não está havendo violência, a situação é difícil mas não alarmante - disse Ronaldo Sardenberg, chefe da missão do Brasil na ONU. Sardenberg informou que as tropas brasileiras estão patrulhando as ruas e o candidato mais votado, René Préval, foi levado de helicóptero para Porto Príncipe, com o objetivo de acalmar os seus partidários. Na reunião de hoje, o Conselho de Segurança deve renovar também por mais seis meses o mandato da Minustah, a missão de estabilização da ONU no Haiti, cujo mandato vence amanhã.

Proposta foi feita por ministro do Exterior brasileiro

O acirramento dos ânimos no Haiti levou o ministro do Exterior, Celso Amorim, a propor que o caso fosse levado para análise no Conselho de Segurança. A proposta foi feita ontem à secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, em conversa por telefone. O chanceler brasileiro telefonou ontem para o próprio Préval, exortando-o a acalmar seus partidários. Em nota, o Itamaraty afirmou que o governo brasileiro "conclama a classe política haitiana a buscar o entendimento dentro do respeito à lei e em um espírito de conciliação. O governo brasileiro faz votos de que o comparecimento maciço e inédito do eleitorado às urnas se traduza em um efetivo fortalecimento da democracia no Haiti, em um ambiente de paz e serenidade." Amorim também pediu ao arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu que use seu carisma para fazer um apelo aos haitianos pela paz. Horas antes de conversar com Condoleezza, Amorim defendeu uma solução negociada para a crise. Disse que o embaixador do Brasil no Haiti, Paulo Cordeiro, pediu essa solução aos membros da Comissão Eleitoral haitiana. - Estamos vendo tudo com muita prudência. O que posso dizer é que a comunidade internacional não pode resolver um problema pelos haitianos, que são os donos do país, e não nós - disse Amorim. - Se há alguma dúvida quanto à vitória de Préval, é importante que as forças políticas procurem resolver a questão em paz. Talvez o caso dependa de um exame mais profundo da contagem de votos.