Título: O fim da CPI
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 16/02/2006, O PAÍS, p. 2

Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas acusado de gerenciar um caixa dois tucano-pefelista, pode ter sido uma das últimas grandes atrações da CPI dos Correios. Estão aprovados requerimentos de convocação do acusador, Nilton Monteiro, e do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, mas governo e oposição já começaram a discutir o fim da CPI, que passou a interessar à oposição.

O que ela tinha de ganhar com a fermentação da crise pelo espetáculo das CPIs já ganhou - embora a recuperação de Lula sugira que tais ganhos saíram por entre os dedos. Daqui para a frente, se a investigação do chamado dimasduto ganhar pulso, a oposição só tem a perder, apesar dos indícios de fraude na tal lista de Furnas, cujo original o lobista Nilton Monteiro está prometendo entregar. Estranho que, se o tem, ainda não tenha feito isso. O fim das CPIs foi tema da conversa que tiveram ontem no café da manhã o ministro Thomaz Bastos e o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati. Conversa preliminar, em que o ministro apenas expôs o interesse do governo em encerrar as CPIs. O país já mudou de agenda, disse o ministro. O que ainda não tiver sido esclarecido - inclusive a lista de Furnas - continuará sendo investigado pela Polícia Federal, que produziu boa parte das provas disponíveis, como a lista dos pagamentos efetuados pelo Banco Rural a mando de Marcos Valério. A respeito da lista de Furnas, Thomaz Bastos repetiu a Tasso o que já disse a outros tucanos: não determinou nem vai interferir nas investigações da Polícia Federal. Pode acreditar na falsidade da lista e até torcer por isso, mas nada pode assegurar. O senador ouviu as ponderações sobre a conveniência de serem logo encerrados os trabalhos da CPI e ficou de apresentá-las aos aliados. Mas esta negociação que parece estar começando terá lugar é no Congresso, entre os líderes. O deputado tucano Gustavo Fruet informava ontem que até 15 de março o produto das auditorias contratadas e das demais investigações estará à disposição do relator Serraglio para que entregue seu relatório até o fim daquele mês. O conjunto das informações disponíveis já permite prever um final melancólico para a CPI, que ao fim e ao cabo não apresentará conclusões à altura do estrépito da crise. Dificilmente o relatório comprovará a narrativa apresentada ao país naqueles dias em que o escândalo parecia não ter fim nem limite. A CPI que investigou as denúncias de Roberto Jefferson comprovou a existência do valerioduto, desvendou o esquema oculto de financiamento do PT e dos aliados, mas não provou tudo o que foi dito. Nem o mensalão na forma descrita por Jefferson nem a existência de um sistema organizado de corrupção no governo que desviava dinheiro público para os cofres petistas. Nem o caso Visanet, que apresenta indícios mais fortes disso, foi claramente demonstrado. Para o PSDB e aliados, o encerramento dos trabalhos da CPI dos Correios é conveniente. Interrompe uma investigação que agora se volta contra eles. Para o PT, o leite já ferveu e derramou. Trata-se agora de garantir um relatório menos danoso possível. Ainda assim, PT e PSDB irão para a campanha arrastando correntes. Lula está em alta, mas o PT continua devendo a sua própria narrativa do que aconteceu. Até agora, parece propenso a escapar pela tangente, da mesma forma como nunca declarou ou discutiu internamente sua conversão aos princípios econômicos que adotou ao chegar ao governo. Um equívoco: não enfrentando com coragem a questão ética, não reconquistará os setores da classe média que decepcionou.