Título: Apagão aumenta ainda mais o clima de medo
Autor:
Fonte: O Globo, 16/02/2006, RIO, p. 15

A GUERRA DO RIO: MORADOR DIZ QUE TIROTEIO PÔDE SER OUVIDO POR MAIS DE UMA HORA E QUE GRANADAS FORAM LANÇADAS

Parte alta da Rocinha e o Alto da Gávea ficaram sem energia porque traficantes atiraram em transformadores

Como se não bastasse o barulho dos tiros, a falta de luz na parte alta da Rocinha e no Alto da Gávea assustou os moradores da região. A energia acabou por volta das 20h15m. Durante a invasão da Rocinha, os bandidos atiraram contra os transformadores, deixando as ruas às escuras. Segundo a Light, até o fim da noite de ontem não havia condições para os técnicos subirem o morro para fazer os reparos. Por volta das 20h, cerca de 250 domicílios da parte baixa da Rocinha tiveram a energia restabelecida. Para amenizar o problema, a assessoria da Light informou que os técnicos estavam tentando remanejar algumas linhas de transmissão. - Temos que aguardar a situação se acalmar. Não podemos pôr as equipes em risco - explicou um assessor. O presidente da Associação de Moradores da Gávea (AMA-Gávea), René Hasenclever, disse que a luz voltou cinco minutos depois em apenas em alguns trechos. Em outros, faltou energia por mais de uma hora. Os moradores ficaram aflitos. - Fica todo mundo preocupado. Minha filha trabalha no BarraShopping. Quando há guerra do tráfico na Rocinha, ela nem sai do trabalho, fica por lá mesmo. O pior é que parece que isso não tem solução, não tem saída. Em situações como essa, os poucos policiais destacados para fazer o patrulhamento do bairro vão para a Rocinha e o resto da Gávea fica desguarnecido - protestou René. Morador da Rua Sérgio Porto, na Gávea, o professor X., de 34 anos, contou que a luz se apagou duas vezes em sua casa. A primeira, momentos depois do início do tiroteio, quando os moradores ficaram quase meia hora sem energia. O segundo apagão durou menos que cinco minutos. - Como sou vizinho da Rocinha, já convivi com muitos tiroteios. Mas este foi o mais barra-pesada. Meu imóvel está desvalorizado. Pago R$2.500 de IPTU por um imóvel que hoje, com certeza, não vale nem isso. O engenheiro Carlos Penna, de 56 anos, morador do Alto da Gávea há 19 anos, desabafou: - É inacreditável que traficantes consigam atravessar a cidade em comboio para invadir a favela e a polícia não perceba nada. É constrangedor ter que ficar em casa, trancado, com medo. Carlos também criticou as autoridades por não conseguirem conter a favelização: - Infelizmente, todos fazem vista grossa. O prefeito, por exemplo, já disse que a Rocinha pode virar um Mediterranée popular. Assim, não é possível conter a situação. Outro vizinho de classe média da Rocinha, morador da Rua Caio Mário, contou que o tiroteio pôde ser ouvido por mais de uma hora. - Começamos a ouvir os tiros por volta das 18h30m. Escutamos explosões de granadas em pelo menos três ocasiões. É terrível conviver com essa situação. Nem de casa a gente pode sair - lamentou.