Título: Cenas finais
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 17/02/2006, O PAÍS, p. 3

Que a CPI dos Correios marcha para um final melancólico ficou claro anteontem, no depoimento de Dimas Toledo. Ali, a investigação da lista de Furnas não irá a lugar algum. Mas o cipó de aroeira voltou-se novamente contra os tucanos ontem, na CPI dos Bingos, usada pela oposição majoritária como sua plataforma de lançamento de mísseis anti-PT. Ela também deve marchar para o final.

É uma CPI que já ouviu o doleiro preso Toninho da Barcelona, escarafunchou o caso Santo André e ouviu aquelas figuras estranhas de Ribeirão Preto em busca de munição contra o ministro Palocci, que não tem como evitar a investigação sobre as revelações que fez ontem o juiz Julier Sebastião da Silva, de Cuiabá, sobre a existência de um caixa dois da campanha do senador Antero Paes de Barros (MT) e outros tucanos, abastecido pelo criminoso (bicheiro é pecha leve) Comendador Arcanjo. Ontem, no Conselho de Ética da Câmara, o deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), relator do processo contra o deputado petista João Magno, tendo votado pela absolvição do colega Roberto Brant, justificou o pedido de cassação do petista: ambos praticaram o caixa dois, receberam ajuda eleitoral não declarada. Mas Brant recebeu da Usiminas, ainda que por meio da empresa de Valério, e Magno, do valerioduto. Ou seja, caixa dois tudo bem, desde que a fonte seja limpa! Se aplicado ao caso de Mato Grosso, dará complicação. Mas esta investigação também não deve acontecer. No depoimento de Dimas Toledo, os petistas pegaram leve porque buscam o acordo para encerrar a CPI. Afinal, a crise se dissipa, Lula está em alta, é preciso mudar de assunto, mesmo que ele esteja incomodando agora os adversários. Ontem, na dos Bingos, diante de tucanos exasperados e da exaltação do senador Antero de Barros, foi o senador petista Tião Viana que primeiro pediu o fim da sessão, antes que saíssem tapas e socos. Ainda que o juiz esteja a serviço dos petistas, como acusou o senador Antero, a poderosa CPI dos Bingos não terá moral para esquecer o que ele disse e continuar investigando apenas mazelas petistas. Por isso deve também marchar para o fim, dando lugar aos ruídos da campanha, que será uma espécie de continuação da crise pelas armas eleitorais. A propósito do fim das CPIs, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, diz ter ouvido argumentos do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sobre a conveniência do encerramento, não tendo porém concordado ou discordado. Diz ele: - Nós não estamos participando de acordo algum para encerrar as CPIs. Em relação à tal lista de Furnas, pedi ao ministro que exija da Polícia Federal uma atitude mais clara. Se está investigando deputados e senadores a partir desta lista que circula na internet, com todos os seus indícios de fraude, é estranho que nenhum comunicado tenha sido feito ao STF. Márcio Thomaz Bastos, segundo a coluna de ontem, disse ter apenas exposto ao senador argumentos a favor do encerramento das CPIs. O Congresso, diz ele, precisa voltar-se para outra agenda, o país já mudou de agenda. As investigações vão prosseguir, por meio da Polícia Federal. Apesar do que diz o senador, o fim das CPIs interessa agora tanto ao PT como ao PSDB. Na campanha, o eleitor que tire suas conclusões.