Título: Corretoras podem ter abastecido caixa dois
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 17/02/2006, O PAÍS, p. 8

Para a CPI dos Correios, valerioduto não foi único esquema para financiar PT e aliados; lista de cassáveis pode crescer

BRASÍLIA. Corretoras que operavam com fundos de pensão também podem ter ajudado a financiar partidos da base governista, como ocorreu no valerioduto. A CPI dos Correios está perto de comprovar que o esquema montado pelo empresário Marcos Valério pode não ter sido o único operado pelo PT e partidos aliados. A partir de um cruzamento de dados, a comissão já teria identificado assessores parlamentares da Câmara que sacaram dinheiro de corretoras, o que pode aumentar a lista de deputados beneficiados por recursos não-contabilizados. - Estamos fazendo essa investigação, que pode envolver novos parlamentares. Mas antes de divulgar qualquer nome, pretendemos checar todos os dados para que não haja equívoco - confirmou o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Para ele, os fundos de pensão deveriam passar por uma devassa mais ampla do que a que está sendo feita agora na CPI. - Apesar do esforço do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), não teremos tempo de concluir essa devassa total - disse Serraglio. O vazamento para a imprensa de que novos parlamentares estariam sendo investigados, além dos 19 deputados que tiveram seus nomes encaminhados para o Conselho de Ética por terem se beneficiados com recursos do valerioduto, levou o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a convocar anteontem à noite uma reunião de emergência com Serraglio e seu adjunto, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). A orientação é que todos tenham o máximo de cautela. - Não divulgaremos nada que não tenha dados consistentes - afirmou Serraglio, sem querer adiantar nem quantos assessores ou parlamentares estão na mira da CPI.

Ministro só será convocado se a PF não divulgar laudo

Já a investigação sobre a lista de beneficiários de recursos de caixa dois de suposto esquema montado em Furnas, em 2002, poderá se encerrar no depoimento de Dimas Toledo, ex-diretor da estatal. Aguardando o laudo da Polícia Federal sobre a autenticidade da lista, Serraglio argumenta que não pode dar seguimento a uma apuração a partir de uma premissa que pode ser falsa. Se houver uma demora muito grande na divulgação do laudo, o relator cogita dar seu aval à convocação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. - São remotas as chances de convocarmos o ministro para depor. Seria uma politização da investigação. Essa hipótese só seria levada adiante se percebermos que a PF não pretende divulgar seu laudo sobre a lista de Furnas - disse o relator da CPI dos Correios. Ele antecipou ainda que não pretende ouvir o lobista Nilton Monteiro, que divulgou a lista, enquanto este não apresentar à polícia os recibos que alega ter. - Se ele (Monteiro) está mesmo disposto a colaborar, que apresente as provas que tem à PF. Por que só quer apresentar na CPI? Até que faça isso, não será marcado o seu depoimento - disse Serraglio.