Título: Empresários cobram idéias novas de tucanos
Autor: Tatiana Farah e Flavio Freire
Fonte: O Globo, 17/02/2006, O PAÍS, p. 9

Em seminário, Serra e Alckmin se calam e Fernando Henrique defende política econômica de seu governo

SÃO PAULO. Num debate em que os economistas tucanos defenderam a manutenção da política econômica, inclusive das metas de inflação, empresários ligados ao Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) criticaram as propostas dos teóricos do PSDB, entre eles Armínio Fraga, e pediram idéias inovadoras. Principal palestrante do seminário "Renovar Idéias - Política Monetária e o Crescimento Econômico do Brasil", promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, e pelo Iedi, Fraga, ex-presidente do Banco Central, foi o mais favorável à política econômica do governo Lula. - A estrada não está pavimentada, mas está na direção certa - afirmou ele em defesa da atual política econômica, que para ele dá continuidade àquela do governo anterior. - A grande distorção que temos hoje é a taxa de juros. Mas, daqui para a frente, as condições para a queda da taxa são excelentes - afirmou Fraga. Os empresários Paulo Cunha, presidente do Grupo Ultra, e Ivoncy Ioshpe, da Ioshpe-Maxion, dirigentes do Iedi, foram os autores das críticas. O Iedi é presidido por Josué Gomes, filho do vice-presidente José de Alencar. Para Ioshpe, as medidas pregadas pelos economistas tucanos são insuficientes. - O seminário fala de novas idéias e não ouvi nada novo. Do encontro participaram os presidenciáveis tucanos, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra - que sentaram lado a lado, mas pouco se falaram. Quem defendeu Armínio foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: - Tem de olhar o gasto público. Está havendo uma má expansão do gasto e o fator central continua sendo o mesmo: a Previdência. Dá para corrigir isso? Dá, mas é preciso ter força política. Na hora dos votos (para a reforma da Previdência), cadê os senhores lá? Qual dos senhores foi lá para dizer que era necessário apoiar a reforma da Previdência? Só os políticos. E quem está lá? Os que não querem a reforma. Os palestrantes concordaram que é necessário o controle dos gastos públicos, a manutenção das metas de inflação e a diminuição da taxa de juros. Além de Fraga, participaram Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central; Júlio Sergio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi; Ilan Goldfajn, ex-diretor do BC, entre outros. Depois, Ioshpe disse que não esperava ouvir mais: - Não esperava mais do que isso, porque é assim que eles pensam. Mas o presidente está no papel dele de mostrar o governo que fez - afirmou. - Eles estavam discutindo o tripé inflação, juros e Orçamento. Se isso está bem, se aperta mais, se aperta menos. Mas isso a gente já escuta há 25 anos e está na hora de mudar. Esses problemas, no momento em que há crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), se tornam menores. Fernando Henrique negou que o Estado tivesse deixado de apoiar o crescimento industrial durante seu governo: - O BNDES foi usado extensamente. Na década de 90, a siderurgia não mudou de cabo a rabo? A indústria automobilística não mudou toda? Quem fez isso? Foi feito sozinho ou o dinheirinho veio do BNDES? Segundo o ex-presidente, a crise que o Brasil vive se estabeleceu a partir da migração para as grandes cidades. - Tínhamos 20% da população nas cidades e 80% no campo. Hoje é o oposto. Isso significa crise fiscal do Estado. Isso deu populismo, deu crise militar, deu tudo. E minimizou o trabalho dos economistas: - Os processos sociais é que contam. Os economistas vêm para tapar buraco. E tapam melhor que o governo atual, que tapa com dinheiro alheio. Após o seminário, Serra criticou a política econômica do governo Lula, mas continuou se recusando a dizer se será candidato: - O Lula dizia que os juros eram altos, na época do Fernando Henrique, por causa dos bancos. E ele jogou os juros mais para cima ainda. O PT diz uma coisa e, na prática, faz outra. O governo do PT pegou o país com céu de brigadeiro. O governo anterior teve seis crises internacionais. Agora não houve nenhuma e apesar disso o Brasil ficou de lanterninha no desenvolvimento do mundo.