Título: Planalto de olho no ninho tucano
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 20/02/2006, O PAÍS, p. 4

Adversário não se escolhe, é o que se ouve no Planalto e no PT. Em termos. Bem que eles têm dado lá sua mãozinha a peemedebistas amigos que tentam tirar Garotinho do caminho. Em relação ao PSDB, onde obviamente não há como interferir, há uma torcida discreta: Serra.

Por estranho que pareça, o adversário preferido de Lula no PSDB é o mais forte dos tucanos. Só o futuro dirá se estão certos, mas feitas as contas, noves fora, os estrategistas da reeleição apontam as razões: 1. Querem reeditar a disputa de 2002. É mais fácil brigar com adversário conhecido, com os mesmos pontos fracos, sobretudo quando já se ganhou dele. 2. Serra tem dificuldades para unificar o PSDB, sobretudo em São Paulo. Os petistas vibram com a briga tucana. Apostam nas seqüelas, ainda mais agora, quando fica claro que a opção da cúpula é pelo prefeito mas o governador insiste em não sair do páreo. Acham que o inconformismo de Alckmin chegará a tal ponto que, ainda que o próprio desista e prometa trabalhar por Serra, seu grupo dificilmente suará a camisa. Como isso se passa no maior colégio eleitoral do país, cuja maior liderança tucana é o governador... 3. Alckmin tem mais apoio do PIB, que se divide entre Serra e Lula. Talvez seja essa a principal razão do Planalto. Já ficou claro que Alckmin encanta o empresariado com um discurso que reflete seus anseios: menor carga tributária, redução da interferência do Estado, etc. Na questão econômica, Serra está à esquerda de Alckmin e, quiçá, de Lula. E aí parte das elites econômicas pode preferir o que já conhece (Palocci e sua política) a possíveis mudanças de Serra. 4. A prefeitura é um ponto de vulnerabilidade. Inevitável que, tendo Serra como concorrente, o PT vá explorar o fato de ter deixado a prefeitura a mais de dois anos do fim do mandato ¿ e deixando lá um pefelista que não tem a melhor das imagens. A entrevista e o documento em que Serra prometia cumprir o mandato até o fim vão parar no horário eleitoral. 5. Serra leva o carimbo de Fernando Henrique. As pesquisas mostram que o ex-presidente ¿ vítima da chamada ¿fadiga de material¿ de oito anos no poder ¿ não é o melhor cabo eleitoral do candidato tucano, qualquer que seja. A associação com o governo passado tira pontos, e muitos acham que as recentes e pesadas críticas de FH acabaram ajudando Lula. Como ex-ministro, Serra tem dificuldades de escapar à associação. Alckmin é cria de Mário Covas. 6. Medo do desconhecido: Alckmin é o novo. Razão que resume tudo. O governador de São Paulo é uma aposta que pode não se concretizar. Hoje, poderia nem ir ao segundo turno se o PMDB entrar em campo com Garotinho. Mas, nesse quadro de repetecos, é o novo. E se emplaca? 7. A questão do vice. Comenta-se que, sendo Serra o candidato, seu companheiro de chapa teria que ser um pefelista com laços mais fortes com o empresariado para afugentar os temores: Jorge Bornhausen. Mas é uma candidatura mais pesada do que a do nordestino Agripino Maia do ponto de vista do PT ¿ que iria explorar até a frase do senador de que gostaria de se ver livre ¿dessa raça¿ por uns trinta anos.

Enquanto isso, naquele comitê invisível...

Lula disse aos petistas que nos próximos dois meses não vai nomear coordenador nem tomar providências de campanha. O que não quer dizer que as coisas não vão andar. Foi montada uma espécie de comitê invisível, integrado pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini ¿ único que pode aparecer ¿ por ministros da casa e outros. Esses permanecerão in pectori até a largada oficial, quando os que têm cargo devem se licenciar. O time:

Luiz Dulci é o mais cotado hoje para, quando chegar a hora, ser o coordenador da campanha, aquele que organiza comícios, propaganda na TV, etc.

Jaques Wagner já esteve mais perto da Bahia do que hoje. Se ficar, coordenará as alianças políticas.

Tarso Genro deve tratar de programa. Política não.

Berzoini opera questões práticas no PT, como escolha de marqueteiro e regras para doações.

Palocci não vai ser o coordenador porque ajuda mais no Ministério. Mas pode pedir licença em julho ou agosto e mergulhar na campanha se precisar.

Prefeitos e governadores, licenciados ou afastados em fim de mandato, também vão. Fernando Pimentel e Jorge Viana já estão nas conversas.