Título: 'AGORA TENHO CHANCE DE MUDAR A PENA DE MORTE'
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 20/02/2006, O PAÍS, p. 5

Brasileiro condenado ao fuzilamento na Indonésia por tráfico de drogas é autorizado a recorrer da sentença

PEQUIM. O brasileiro condenado à pena de morte na Indonésia por tráfico de cocaína diz que recebeu da Suprema Corte do país o direito de reabrir o seu caso nos tribunais, com advogados brasileiros. Preso em Jacarta em 2003, Marco Archer Moreira acha que desta vez conseguirá alterar sua pena para prisão perpétua e, com bom comportamento, até obter sua redução ou a expulsão para o Brasil.

Como é viver no corredor da morte? MARCO ARCHER MOREIRA: Eu não conseguia dormir desde que o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, rejeitou há 10 dias o pedido de clemência feito pelo presidente Lula por minha vida. Mas na sexta-feira recebi uma carta da Suprema Corte daqui me autorizando a reabrir o meu caso, desta vez com advogados brasileiros ou internacionais, e isso me deixou muito esperançoso. Finalmente eu consegui dormir no fim de semana.

E por que a Justiça indonésia lhe deu uma chance se o presidente havia rejeitado há apenas uma semana o pedido de clemência feito pelo presidente Lula? MOREIRA: Eu acho que, no fundo, a carta enviada pelo presidente Lula deu certo. O presidente Susilo Yudhoyono teve que dar uma de durão em público, mas certamente deve ter levado os argumentos do governo brasileiro em consideração e decidiu sugerir que a Justiça me desse outra chance. Na verdade, você pode apelar da pena de morte duas vezes na Justiça daqui. Eu já havia apelado uma vez e perdido na segunda instância. Agora, estou confiante de que posso mudar a pena.

De que maneira? Quem serão seus advogados? MOREIRA: Minha família e o Itamaraty estão neste momento vendo isso. Há uma chance de, com advogados do Brasil, buscarmos mudar a pena de morte por fuzilamento para prisão perpétua. E depois, mantendo um bom comportamento na prisão, tentar alterar a pena para algo como 15 anos. Eles também poderiam tentar a minha expulsão do país, o que seria ótimo.

Qual é a sua estratégia de defesa? MOREIRA: Eu reconheço o erro que cometi e devo pagar por isso. Mas eu mereço uma nova chance. No meu país não existe sentença de morte e é isso que estamos usando para tentar mudar a pena. Eu já estou sendo punido e pagando pelo meu crime. Estou sofrendo longe de todos que eu amo, minha família, meus amigos. Não é preciso me matar, não é?

Você vê com freqüência o brasileiro Rodrigo Goularte, que também foi condenado à morte na Indonésia? MOREIRA: Vejo todos os dias. Rodrigo e eu somos muito amigos. Ele ainda está na fase de apelação da sentença, mas acredito que o que acontecer comigo certamente pode acontecer com ele. Estamos otimistas.