Título: ARGENTINA ANULOU CONCESSÃO DE DUAS ÁREAS À PETROBRAS, SEGUNDO O `CLARÍN¿
Autor: Janaína Figueirado
Fonte: O Globo, 20/02/2006, ECONOMIA, p. 15

Revogação ocorreu em 2004 a pedido de estatal argentina e gerou crise, diz jornal

BUENOS AIRES. Apesar das aparentes boas relações entre o governo do presidente argentino, Néstor Kirchner, e a Petrobras, a estatal brasileira teria protagonizado um delicado conflito com autoridades argentinas em novembro de 2004, segundo publicou ontem o jornal ¿Clarín¿, um dos mais importantes do país. A crise teria sido desencadeada pela decisão do governo argentino de anular a concessão de duas áreas de exploração de gás e petróleo na chamada Cuenca Colorado Marina, localizada no Oceano Atlântico, à altura do balneário de Mar del Plata. Segundo o jornal argentino, a concessão foi revogada a pedido da estatal argentina Enarsa, criada em novembro de 2004 pelo governo Kirchner com o objetivo de devolver ao Estado o espaço perdido no mercado energético desde a privatização da YPF, na década de 90. ¿Tratava-se de uma operação ambiciosa. Só em exploração sísmica, o investimento estimado era de US$40 milhões em 2006. Calcula-se que nessa região marítima, se fossem encontradas as reservas de gás previstas em estudos, o investimento superaria US$1 bilhão em cinco anos¿, afirmou o ¿Clarín¿. A decisão do governo argentino, disse o jornal, não foi bem recebida pela diretoria da Petrobras, que finalmente acabou negociando um acordo de exploração conjunta com Enarsa e a espanhola Repsol-YPF.

Jornal questiona concessão integral à Petrobras

De acordo com o ¿Clarín¿, o assunto foi tratado pelo ministro do Planejamento argentino, Julio De Vido, um dos principais colaboradores do presidente Kirchner, e pelo chefe de gabinete, Alberto Fernández. Ambos receberam as queixas da Enarsa e concordaram que o melhor era anular uma concessão que poderia abalar a imagem de um governo que pretendia ser sinônimo da defesa dos interesses nacionais. A decisão final, continua o jornal, ficou nas mãos do procurador Geral do Tesouro, Osvaldo Guglielmino. A reportagem publicada ontem no ¿Clarín¿ questionou a concessão: ¿Como foi que o governo esteve a ponto de dar a concessão total de duas áreas petrolíferas atraentes a uma empresa quando um dia antes havia sido criada uma companhia estatal destinada a promover alianças com capitais privados?¿. A Petrobras é a segunda maior companhia petrolífera da Argentina. A compra da Pecom, em 2002, por um valor superior a US$1 bilhão, transformou a estatal brasileira num ator fundamental do mercado energético argentino.