Título: OS LIMITES DO CHEQUE ESPECIAL
Autor: Mauro Halfeld
Fonte: O Globo, 20/02/2006, ECONOMIA, p. 16

Uma boa notícia para as famílias: a dor de cabeça com a dívida do cheque especial está menor. Segundo o Banco Central, a participação relativa dessa modalidade de empréstimo no volume do crédito concedido pelas instituições financeiras às pessoas físicas caiu para 8,5% em 2005 (em 1999, chegou a quase 27%). Não é ponto fora da curva, é tendência definida de queda.

Antes de tudo, o básico: ninguém deve eternamente no cheque especial. Não se pode passar impunemente por uma linha que cobra em média 150% de juros ao ano quando o IGP-M mal chega a 2%. É claro que um dia, não necessariamente um belo dia, o devedor será convidado a quitar sua dívida ou renegociá-la em termos até mais vantajosos, sendo direcionado para uma carteira mais barata na linha de crédito pessoal. O crédito consignado não foi um mero coadjuvante em toda essa história. Muitos trocaram a dívida cara do cheque pela consignação em folha. Foi uma tábua de salvação para muitas pessoas e um avanço importante. Cá entre nós, não são poucos os bancos que ganham muito dinheiro emprestando com juros mais baixos, praticamente sem riscos. Um alerta: o volume do rotativo do cartão de crédito cresceu e estava virtualmente empatado com o cheque especial dezembro de 2005. Em 2002, era apenas a metade em relação a este. Com a agressiva substituição do cheque pelo cartão, parte dos devedores em cheque especial preferiu o rotativo do cartão. Trocaram seis por meia dúzia. Felizmente, a educação financeira tem ajudado. Nos últimos anos, é visível a mudança de mentalidade de alguns cidadãos. Quem coloca ordem em suas finanças, seja por planejamento prévio ou por ter sofrido na carne os efeitos do descontrole financeiro, não está fazendo bem só para si. Está ajudando a consertar o país. Até quando a participação relativa do cheque especial vai continuar a cair? Difícil prever. Penso que, para nós, seja como ver os grandes transatlânticos quando se aproximam do litoral. Da praia, é possível ver aquela grande nave tomar conta de quase todo o horizonte. Mas, à medida que ela se dirige para o alto-mar, vai se tornando cada vez menor. Você sabe que o navio não encolheu; foi a visão do horizonte que ficou maior. Felizmente.