Título: ABBAS E HAMAS, DIVISÃO ENTRE PALESTINOS
Autor:
Fonte: O Globo, 20/02/2006, O MUNDO, p. 17

Presidente da ANP insinua que radicais não têm direito de negar Acordos de Oslo

JERUSALÉM. Ainda que o líder do Hamas e possivelmente próximo primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, tenha dito que os conflitos entre o seu movimento e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, serão resolvidos com diálogo e entendimento, os dois parecem estar em rota de colisão. O discurso de Abbas na sessão de abertura do novo Conselho Legislativo Palestino (o Parlamento) foi especialmente duro, e teve como alvo principalmente os deputados do Hamas. A essência das declarações para o Hamas foi a seguinte: a luta palestina não começou ontem; nós, da Organização para a Libertação da Palestina, a lideramos há décadas; nós, através das instituições da OLP, discutimos e aprovamos os Acordos de Oslo (1993) e ninguém tem o direito de questionar a legitimidade destes compromissos. ¿ Nós, como ocupantes da Presidência, continuaremos com nosso compromisso com as negociações como um caminho político pragmático e como uma estratégia para aproveitar os frutos de nossa luta que já dura décadas ¿ disse Abbas. Os membros do Parlamento do Hamas entraram no salão da Muqata em Ramallah juntos depois que a maioria dos outros deputados já estava sentada. Eles mantiveram seus trajes normais e a maioria não usava terno e gravata ¿ alguns estavam barbados e outros vestiam roupas tradicionais. Todas as mulheres usavam mantas que cobriam seus cabelos. Eles estavam tensos enquanto escutaram o discurso de Abbas, mas não o interromperam. Eles assistiam na tela da TV no canto do salão a imagem de seus líderes e outros deputados em Gaza, que foram proibidos por Israel de viajarem para Ramallah. No fim do discurso, quase nenhum deles aplaudiu. Quando os deputados se levantaram em respeito a Abbas, que deixou o salão antes, muitos integrantes do Hamas permaneceram sentados.

Presidente exalta OLP e não elogia vitória do Hamas

Abbas deixou claro em seu discurso que não tem intenção de tranqüilizar os representantes do Hamas. Ele não fez qualquer elogio a eles e mencionou diversas vezes a OLP, sua luta histórica e conquistas impressionantes. O Hamas não faz parte da OLP. Diversas tentativas feitas no passado para que o grupo se juntasse à organização não tiveram sucesso, e a mensagem de Abbas em relação a isso foi: Não esqueçam que vocês estão sentados aqui num parlamento graças à OLP e a Oslo. Abbas também mencionou a conferência árabe que reconheceu Israel e a normalização das relações (depois de uma retirada total e uma solução para o problema dos refugiados), e quem são vocês para discordarem do mundo árabe? Contrastando com o enaltecimento da OLP e seus sucessos históricos, Abbas foi mais circunspecto quando se referiu à ANP, e chegou a mencionar erros cometidos por ela. O que não fez parte do seu discurso também foi importante. Não houve um pedido para os países auxiliarem o governo do Hamas. No momento em que há discussões em Israel, na região e em todo o mundo sobre como lidar com o governo do Hamas, o fato de Abbas não ter mencionado isso é significativo.