Título: ISRAEL PUNE AUTORIDADE PALESTINA
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Fonte: O Globo, 20/02/2006, O MUNDO, p. 17

Premier Olmert interrompe envio de dinheiro de impostos, provocando crise na ANP

JERUSALÉM

Ogoverno israelense decidiu ontem interromper a transferência de fundos para a Autoridade Nacional Palestina (ANP), um dia depois de o novo Parlamento palestino com maioria do grupo radical Hamas ter tomado posse. Ontem, o movimento responsável por dezenas de atentados terroristas em Israel indicou o pragmático Ismail Haniyeh para ser o novo primeiro-ministro da ANP. ¿ Fica claro com a maioria do Hamas no Parlamento palestino que a Autoridade Palestina está se tornando de fato uma autoridade terrorista ¿ disse o primeiro-ministro em exercício, Ehud Olmert. ¿ Não manteremos contatos com um regime no qual o Hamas faça parte, seja de forma marginal, significativa ou total. A decisão do premier tem efeito imediato e foi criticada pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas, do Fatah. ¿ Infelizmente, as pressões começaram e o apoio e a ajuda começaram a diminuir. Desta forma, estamos no momento numa crise financeira ¿ disse Abbas. A medida anunciada por Israel fará com que cerca de US$50 milhões deixem de ser enviados para a ANP a cada mês. O dinheiro é recolhido sob a forma de impostos de palestinos que trabalham em Israel e taxas de alfândega de exportações dos territórios ocupados palestinos, vendas que são feitas através de portos controlados pelos israelenses. A interrupção do envio desta soma para a ANP já foi usada outras vezes por Israel como forma de pressão, mas depois de atrasos e negociações o dinheiro sempre voltou a ser enviado. A ação certamente terá forte impacto em Cisjordânia e Faixa de Gaza. O desemprego dos territórios chega a 40% da força de trabalho. Boa parte da economia da área administrada pela ANP depende dos salários de funcionários públicos, que são 130 mil. Cerca de metade do dinheiro destinado ao pagamento dos salários destes funcionários vem dos impostos enviados por Israel.

Haniyeh busca governo de coalizão

Ontem a ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, reconheceu que a população palestina poderá sofrer com a decisão, apesar de frisar que o Estado judeu não pretende realizar qualquer ação contra a população, mas apenas contra a administração comandada pelo Hamas. ¿ Pode-se pressupor que o estilo de vida (dos palestinos) mudará, mesmo que este não seja o objetivo de Israel. Um dos fatores alegados por alguns críticos é que a administração da ANP não passará para o Hamas imediatamente. Depois da indicação oficial, Haniyeh tem, pela lei palestina, três semanas para montar um Gabinete, que precisará ser aprovado pelo Parlamento. O Hamas não teria dificuldade para aprová-lo, pois conta com 74 das 132 cadeiras do Legislativo. Porém analistas afirmam que Haniyeh tentaria formar um governo de coalizão com o Fatah. Mas a possibilidade de o grupo laico aceitar uma aliança com o movimento islâmico radical é considerada remota. O governo israelense decidiu não tomar medidas ainda mais duras que foram recomendadas pelos serviços de segurança contra a ANP, mas não negou que elas poderão ser adotadas no futuro. Entre elas está a proibição de que palestinos entrem no território israelense, mesmo que seja para passar de Gaza para a Cisjordânia e vice-versa, e impedir as exportações palestinas, que são feitas por postos controlados por Israel. O provável futuro primeiro-ministro Haniyeh criticou a decisão de Israel. ¿ As sanções de Israel têm como objetivo forçar os palestinos a ficarem de joelhos. Já lidamos com desafios no passado e seremos capazes de resistir a futuros desafios também ¿ disse ele, que afirmou que a ANP controlada pelo Hamas buscará o apoio de países islâmicos.