Título: PAQUISTÃO PRENDE LÍDERES ISLÂMICOS
Autor:
Fonte: O Globo, 20/02/2006, O MUNDO, p. 18

Protestos contra charges de Maomé são dispersados. Na Líbia, manifestantes mortos viram mártires

ISLAMABAD. O governo paquistanês prendeu ontem mais de 200 pessoas envolvidas em protestos contra a publicação de charges de Maomé por descumprirem a proibição de manifestações. Em Nigéria e Líbia, países em que protestos de radicais islâmicos mataram 27 pessoas no fim de semana, não houve novas manifestações ontem. Mas na Indonésia, a embaixada dos EUA foi apedrejada. A polícia do Paquistão realizou diversas incursões em escolas islâmicas, e casas de líderes religiosos e de dirigentes políticos ontem. Estão proibidas no país inteiro reuniões com mais do que cinco pessoas. O Ministério do Interior do Paquistão tentou por dias negociar com a coalizão de seis partidos islâmicos do país, a Muttahida Majlis-e-Amal (MMA), para ela desistir de realizar passeatas ontem na capital, Islamabad, e em outras cidades. Os líderes do grupo se recusaram. Nas primeiras horas de ontem foram feitas diversas prisões. O presidente do grupo Jamat Islami e líder do MMA, Qazi Hussain Ahmad, foi colocado em prisão domiciliar. Ele foi encontrado no escritório da coalizão islâmica, em Lahore, e não poderá sair de lá.

Indiano oferece US$11 milhões por morte de cartunista

Ahmad considerou sua prisão um erro do governo: ¿ Com a ausência dos líderes do MMA será responsabilidade do governo manter a paz durante as manifestações. Em Islamabad e Lahore, outras 200 pessoas ¿ 25 delas integrantes do MMA ¿ foram detidas nas últimas 24 horas. A polícia dispersou os protestos. Na Líbia, onde na sexta-feira manifestantes radicais invadiram e incendiaram parte do consulado da Itália em Benghazi, a situação estava mais tranqüila. O ministro do Interior, Nasser al-Mabrouk Abdallah, e os comandantes policiais de Benghazi foram demitidos por ¿uso desproporcional da força¿ contra os manifestantes. Onze pessoas foram mortas. Ontem foi declarado dia de luto nacional e os manifestantes mortos pela polícia foram oficialmente considerados mártires. Na Nigéria, o Exército foi enviado para o estado de Borno, onde radicais islâmicos assassinaram 15 das 16 pessoas mortas em protestos de muçulmanos no sábado. Eles queimaram igrejas cristãs, lojas e carros depois de um protesto contra as charges. No últimos anos, a região tem sido palco de choques entre cristãos e muçulmanos que mataram centenas de pessoas. Na Índia, um político ofereceu US$11 milhões para quem matar um dos cartunistas responsáveis pelas charges, originalmente publicadas na Dinamarca. Membro de um governo local, Haji Quereshi fez o anúncio sexta-feira. Funcionários locais disseram que não fariam acusações judiciais contra ele pois Quereshi estaria ¿apenas articulando sua opinião pessoal¿. Em Londres, dez mil pessoas fizeram uma passeata pacífica contra as charges.