Título: Valeu, Mick. Elton John vem aí
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Fonte: O Globo, 20/02/2006, SEGUNDO CADERNO, p. 1

VIPs foram vaiados. Povão se divertiu. E Cesar Maia promete novo show na praia

Foram os 100 metros mais difíceis da vida dos 3.500 VIPs convidados para o espaço da Claro Motorola no show dos Rolling Stones. Eles saíam com suas camisetas, onde estava escrito um imenso VIP, da porta do Hotel Excelsior, na esquina da Fernando Mendes com Atlântica, e tinham que caminhar até o outro lado da rua onde teriam o privilégio de ver o show praticamente olho no olho com Mick Jagger. O grupo saía em blocos de 20 pessoas, cercado por dez seguranças. Na curta travessia da Atlântica era vaiado de todas as maneiras e com todas as piadinhas pelo povão até a areia segura do camarote.

O espaço VIP era cercado de mordomias por todos lados, uma profusão de doces, salgados, sorvetes, cervejas e um escondidinho de calabresa que serviu quase como jantar. Mesmo assim, na hora de botar o gogó para funcionar, os VIPs deixaram a desejar. Frios. Ellen Jabour subiu nos ombros do namorado Rodrigo Santoro, Cleo Pires apareceu no telão cantando. Mas a turma parecia querer mais fotografar o show, e se fotografar, do que instalar um comportamento rock no pedaço. Enquanto a multidão se espremia no resto da praia, entre os VIPs sobrou espaço. Estavam lá globais de diversas importâncias, mas a grande maioria era de ilustres desconhecidos confirmando a tese de que o Brasil não tem, não podia ter, 3.500 VIPs.

Alguém disse que VIP ali queria dizer ¿Very importantes paulistas¿.

Luciana Gimenez, com ares de primeira dama, estava, ao lado da mãe, Vera Gimenez, e do estilista Calvin Klein, num camarote especial, desanimadíssimo, dentro da área VIP. Marcelo Carvalho, seu namorado atual, dono da Rede TV!, ficou em outro camarote. Luciana dançava muito, respondia quando Mick perguntou em português se estava tudo bem com a galera. ¿Tudo¿, gritou. Luciana não desanimou nem quando Mick cantou ¿Oh no, not you again¿ (algo como ¿Oh não, você de novo¿), que segundo a crítica internacional teria sido feita para ela.

Aliás e a propósito: na frente do Copacabana Palace, um grupo de meninas segurava uma faixa com os dizeres ¿Mick, make a son in me (Mick, faça um filho em mim)¿.

O senador Delcídio Amaral compareceu com a maior de todas as camisetas, quase um abadá. Dizia que ¿Simpathy for the devil¿ seria uma boa trilha sonora para as CPIs do Planalto.

De Luís Fernando Guimarães, muito franco, ao ser abordado por uma fã que lhe pedia para tirar foto. ¿Claro, afinal de contas estou aqui também para ser visto, não é¿.

Malu Mader foi a celebridade que mais ganhou camisetas para a área VIP. Foram seis ao todo. Para a atriz, os filhos e alguns parentes, mais a mordomia de uma van com segurança e adesivo de ¿trânsito livre¿ no caos de Copacabana buscando-a na porta de casa. ¿Malu merece. Os filhinhos dela tinham o direito de ver, com todo o conforto, o pai tocando nesse show histórico¿, disse a promoter Alicinha Cavalcanti, pouco antes do show dos Titãs.

Já Alexandre Borges ficou de fora. Perdeu o credenciamento e Alicinha, ¿com o coração na mão¿, não abriu exceção. ¿Foi uma pena, até porque a Julia Lemmertz, mulher dele, está aqui. Mas não dava mesmo. Eu amo o Alexandre, mas não tinha como¿, dizia. Fernanda Torres e Andrucha Waddington também não conseguiram entrar pelo mesmo motivo.

Alinne Moraes, de enormes óculos escuros mesmo à noite, dançava jogando charme para o ex, Cauã Reymond. Virava para trás, tirava os óculos, lançava olhares lânguidos. Cauã resistiu bravamente. Roberto de Carvalho assistiu a boa parte do show literalmente boquiaberto. Rita Lee ficou em casa. ¿Ela não suporta multidão¿, explicava.

Cleo Pires também se aboletou no ombro do namorado Tulio Dek. Batia palmas e gritava ¿uhuu!¿. O rapaz tem um acentuadíssimo sotaque goiano e dizia ¿nóóóóo...¿ (uma abreviação de ¿nossa!¿, o equivalente, em goianês, ao carioca ¿caraca!¿) quando viu o palco B avançando com a banda rumo ao povão.

Sabrina Sato achou Mick Jagger ¿muito magro¿. Suzana Vieira, de short branco e trancinhas rastafari, achou Mick ¿muito gentil¿, por ter usado uma camisa com a bandeira brasileira. ¿Ele é genial e os amiguinhos dele também são muito fofinhos.¿ Suzana é então interrompida por um fã que diz que ela está ¿belíssima¿ na escola de samba. ¿Obrigada, querido. Eu sei que estou belíssima. E vou continuar belíssima¿, disse.

Suzana saiu do show com seguranças da produção que a levaram até o carro. Quem não era famoso não tinha esse privilégio e era obrigado a encarar uma espécie de corredor polonês na saída do espaço. ¿Figurante! Figurante!¿, gritavam, quando passava por ali algum anônimo com a camisa da área VIP.

Após o show, o empresário Luiz Oscar Niemeyer promoveu uma festa para seus convidados na varanda do Copacabana Palace. Ron Wood e Mick Jagger desceram por volta das 2h da madrugada e ficaram dentro de um curralzinho montado no hall de entrada do Salão Nobre. Junto com eles um grupo de socialites internacionais, como o arranjador americano Quincy Jones. Keith Richards e Charlie Watts não apareceram.

A truculência dos seguranças ingleses da banda chamou a atenção. Uma conhecida socialite, amiga dos Stones, tentou aproximar-se e foi impedida por um dos guarda-costas. Após explicar sua amizade tomou um ¿I don't give a shit¿ (numa tradução elegante, algo como ¿não dou a mínima¿). O caldo só não entornou porque Mick reconheceu-a e chamou-a para dentro.

Keith Richards personalizou várias peças do seu apartamento com um adesivo que costuma usar como logotipo, uma caveira. A placa de ¿Do not disturb¿ na porta, por exemplo, ganhou o decalque. E certamente vai aparecer num leilão futuro valendo os tubos.

Antes do show, Ron Wood jantou no Copa com a socialite Andrea Dellal, o publicitário Luiz Pastore a mais alguns convidados, a maioria paulistas. ¿Ele estava muito concentrado, não tava de muito papo não¿, disse o cineasta Neville de Almeida. Ron comeu casquinha de siri e bebeu champanhe.

O prefeito Cesar Maia, que assistiu ao show da residência oficial, na Gávea Pequena, já tem novo sonho de consumo. Ele iniciou entendimentos para promover um show de Elton John em Copacabana, nos mesmos moldes dos Stones. Para o prefeito, Elton é o nome ideal por falar para várias gerações. ¿Vai depender da agenda dele. Elton John fala da diversidade e contra a discriminação e os preconceitos. Já tentei trazê-lo uma vez, dois anos atrás, para tocar no Dia Mundial contra a AIDS, mas não consegui¿, diz Cesar.