Título: É HORA DE GOVERNAR
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 19/02/2006, O PAÍS, p. 3

No Planalto, assessores tentam evitar manifestações eleitorais em solenidades

BRASÍLIA. Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comportar como candidato, ministros, governadores, prefeitos e aliados vêm sendo aconselhados a evitar discursos pró-reeleição em palanques oficiais nos estados e nas solenidades dentro e fora do Palácio do Planalto. O esforço é para não ofuscar o impacto das ações lançadas pelo governo e o próprio presidente Lula ¿ que nem sempre tem esse cuidado e se encarrega ele mesmo de tocar no assunto eleição. Segundo interlocutores, Lula tem alertado que sua administração é que será julgada nas eleições de outubro e, por isso, o momento é de concentrar energia nas ações de governo, não na disputa eleitoral. Outra preocupação é evitar ações judiciais, como aquelas apresentadas pelo PSDB, com base no comportamento do governador do Acre, Jorge Viana, que no dia 21 de janeiro pediu votos para Lula e apresentou um manifesto neste sentido enquanto discursava numa cerimônia oficial. Também foi considerado um desgaste inútil a repercussão da claque de cinco pessoas na cerimônia de lançamento de pacote da habitação, no dia 7 de fevereiro, que gritavam ¿Lula de novo, moradia para o povo!¿. Segundo auxiliares do presidente, esse tipo de manifestação ganha mais espaço na mídia do que as medidas do governo, além de provocar a ira da oposição. A intenção é evitar que os palanques oficiais se transformem em palanques eleitorais, com discursos e manifestações de autoridades em prol da reeleição. Para discutir as regras nesse momento, Lula e ministros vêm conversando com os setores jurídicos do governo, da Advocacia Geral da União (AGU) e da Casa Civil. Informalmente, assessores buscam informações sobre como se comportava o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nesse mesmo período, em 1998, quando a campanha oficial ainda não começara. Na próxima semana, quando Lula visitará seis estados em dois dias, a expectativa é de que os discursos dos aliados tratem das universidades a serem construídas naqueles locais. As manifestações de apoio seriam deixadas apenas para a população, que não podem ser evitadas ¿ para o bem ou para o mal. O problema é que o próprio Lula não resiste às provocações dos adversários e acaba respondendo em discursos. Ele tem prometido se controlar. Tanta cautela tem explicação estratégica: acreditam que a subida de Lula nas pesquisas deve-se, entre outras coisas, aos ataques da oposição, principalmente pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Governistas torcem para que Fernando Henrique continue atacando Lula. E que ele, Lula, não responda.