Título: IMAGEM EM RECONSTRUÇÃO
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 19/02/2006, O PAÍS, p. 3

Lula quer transparência e empresários na tesouraria da campanha para a reeleição

Para evitar erros cometidos pela antiga cúpula do PT nas eleições de 2002 e passar imagem de transparência, o Palácio do Planalto planeja mudanças no comando de campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva este ano. Entre as novidades pensadas pelo próprio Lula, estão uma coordenação de campanha colegiada ¿ com a descentralização das responsabilidades ¿ e a participação de empresários no comitê financeiro para ajudar a captar doações. Formalmente, Lula não escolheu os assessores de campanha, mas os nomes que vão coordenar o processo já estão na roda. Em todas as conversas, Lula tem exigido cuidado redobrado. A ordem é exibir transparência na obtenção e no gasto dos recursos. Os petistas envolvidos nessa formatação acreditam que a fórmula dos colegiados contribuirá para limpar junto aos doadores a imagem do partido, arranhada com as operações irregulares de arrecadação montadas pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares. ¿ O nível de controle e segurança, principalmente com a área financeira, tem de ser muito mais exigente. Ninguém quer correr o risco de pôr a confiança numa única pessoa, para depois o partido ser surpreendido ¿ avisa o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini.

Presidente quer descentralização

O governador Jorge Viana (PT-AC) reforça a preocupação de Berzoini, estendendo-a para outros temas da campanha: ¿ Temos que continuar a ter um discurso preocupado com a ética. Vamos precisar enfrentar esse debate. Nossa obrigação é deixar claro que estamos fazendo uma campanha diferente da anterior. Temos que ser mais transparentes, usando inclusive a tecnologia. O PT praticou caixa dois. Agora, o partido precisa explicitar que mudou de comportamento. A idéia de Lula é mesmo descentralizar as responsabilidades, não criando homens fortes, como foram José Dirceu na área política em 2002 e Delúbio na área financeira. Ele reconhece que o comando político nas mãos de uma única pessoa potencializou os problemas que o PT enfrentou com o escândalo do mensalão. Por isso, o próprio Lula deve assumir, na prática, o papel de coordenador político, tendo um fiel aliado ocupando formalmente a função. O presidente deseja montar grupos para atuar nas principais áreas da campanha: publicidade, programa de governo, finanças e coordenação política. ¿ A crise política impôs uma reformulação do quadro partidário. O presidente quer buscar pessoas de credibilidade com capacidade de operar tarefas de forma mais colegiada ¿ reforça o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, candidato ao governo de Sergipe.

PT promete ter austeridade

No PT e no Planalto, há consenso de que a campanha de 2006 precisa ser bem mais modesta e austera do ponto de vista financeiro, como afirma o secretário de comunicação do PT, Huberto Costa, candidato ao governo de Pernambuco. Apesar de Lula já ter avisado que só anuncia a candidatura em junho, dirigentes petistas tentam se organizar. A pressão é cada vez maior para que Lula comece a montar a estrutura de campanha logo depois do carnaval. Um dos problemas na formação da equipe é que os principais nomes do partido, com experiência em eleições, saíram de cena com a crise, como os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e os ex-dirigentes José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira. A grande questão é quem está habilitado para conduzir a sucessão. ¿ Essa é a nossa prioridade. Não será uma tarefa fácil, já que perdemos grandes nomes ¿ reconhece o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Lula aguarda o prazo de desincompatibilização ¿ 31 de março ¿ para escolher quem estará ao seu lado nesta campanha. ¿ Por enquanto, está tudo na cabeça do presidente ¿ conta o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. A principal dúvida é quem será o braço direito do presidente na coordenação. Ele vai articular pessoalmente as alianças com os partidos. Mas deverá pôr formalmente no cargo um petista de menor calibre, como o ministro Luiz Dulci (secretário-geral), que funcionaria como uma espécie de porta-voz. O colegiado com os presidentes das legendas aliadas deve ser coordenado pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini. Lula deve ainda pedir a ajuda de petistas em cargos executivos como os prefeitos Fernando Pimentel (Belo Horizonte) e Elói Pietá (Guarulhos), na montagem do programa de governo. O presidente gostaria de ter Jaques Wagner na campanha, mas disse que vai respeitar a decisão do amigo sobre sua provável candidatura ao governo da Bahia. Outra dúvida é Jorge Viana, governador do Acre, nome forte para o comando central.

Palocci deve ficar no governo

O ex-ministro da Educação Tarso Genro é outra escolha dada como certo no grupo, mas com uma função mais programática do que política. ¿ Defendo que o maior número de petistas seja candidato. Esta campanha é como se fosse uma decisão de grande campeonato. É hora de colocar todo o time em campo. Quem quiser ajudar tem que ser candidato. Temos que ter em mente que a prioridade é a campanha de Lula. Por isso mesmo, vou reservar boa parte do meu tempo este ano para a ajudar ¿ avisa Jorge Viana. Já o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, cujo nome foi pensado para coordenação de campanha, deve ficar mesmo no governo. Além de Lula considerar que Palocci tem que continuar no comando da economia, existe forte reação a seu nome no PT. O partido teme que sua presença seja identificada como a continuidade de uma política econômica mais ortodoxa. No programa de governo, o PT quer adotar um tom mais desenvolvimentista.