Título: ELEIÇÃO DIVIDE AS IGREJAS EVANGÉLICAS DO PAÍS
Autor: Maria Lima, Maiá Menezes e Chico Otávio
Fonte: O Globo, 19/02/2006, O PAÍS, p. 10

Lula e Garotinho disputam os votos dos segmentos religiosos, mas o presidente terá de correr contra o tempo

BRASÍLIA e RIO. A disputa eleitoral deste ano vai opor algumas das forças mais importantes do mundo evangélico pentecostal. De um lado, em torno da provável candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à reeleição, pesos-pesados como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Casa da Benção. Do outro, aliada a Anthony Garotinho (PMDB), a poderosa Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil e outras forças igualmente expressivas. A divisão preocupa bispos e pastores de ambos os lados. A estimativa é que hoje os evangélicos representem 15% do universo de eleitores brasileiros. Assim como em outros lugares do país, este segmento deverá ir às urnas dividido no Estado do Rio. O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo da Universal, negocia o apoio de Lula na corrida pela sucessão da governadora Rosinha Garotinho. Mas Garotinho espera conquistar o voto evangélico para o senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), seu candidato.

Garotinho está em vantagem

Na luta pelo rebanho evangélico, Garotinho saiu na frente. O pastor Ronaldo Fonseca, coordenador político da Convenção Geral da Assembléia de Deus no Brasil (23 milhões de fiéis, segundo ele), afirmou que a igreja apoiará Garotinho porque ¿ele é experimentado, não é aventureiro¿. A instituição é uma das mais fortes também na representação política, com 21 deputados federais e 39 estaduais. Mas os evangélicos da bancada petista começam a se movimentar para garantir a Lula uma fatia desse eleitorado. Eles terão que correr contra o tempo para reduzir a enorme vantagem de Garotinho. Petistas que trabalham no projeto da reeleição começam a agendar encontros do presidente com representantes das Assembléias de Deus, Igrejas Batista, Pentecostal e todos os outros ramos. Mas o líder da bancada evangélica no Congresso, que reúne 61 deputados e três senadores, deputado Bispo Adelor Vieira (PMDB-PR), diz que há muito chão a percorrer, já que Garotinho tem uma boa dianteira e faz esse trabalho há tempos. ¿ Até agora, os articuladores de Lula não fizeram nada. Estão perdendo tempo porque o Garotinho transita com a maior tranqüilidade entre todos os segmentos evangélicos. Ele se identifica mais, isso faz a diferença ¿ disse.

Lula tem apoio da Universal

Lula conta com o apoio da Igreja Universal e articula para que líderes das convenções Batista, Luterana, Presbiteriana, Metodista e outras das Assembléias de Deus não manifestem apoio a nenhum candidato. O PT também espera atrair o Movimento Evangélico Progressista, segmento que defende a separação total entre Igreja e Estado, embora incentive a participação política dos fiéis. ¿ O cristão é também um cidadão e não deve nem pode estar alienado da política. A diferença é que repugnamos o uso do púlpito, pois este é espaço específico para a manifestação da fé ¿ disse o presidente do movimento, Juliano Finelli. Há os indecisos, como o bispo Manoel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembléias de Deus do Brasil (8 milhões de fiéis, segundo ele), que não pretende tomar posição agora. Ele adiantou que a igreja deverá lançar de um a dois candidatos às eleições proporcionais por estado.