Título: PERNAMBUCO DEVOLVE VERBA FEDERAL SEM CUMPRIR META DE REFORMA AGRÁRIA
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 19/02/2006, O PAÍS, p. 15

Um dos três estados com mais conflito no campo não usou R$85,5 milhões

PAUDALHO (PE). Apontado pelo Incra como um dos três estados brasileiros com maior potencial de conflitos no campo e com 18 movimentos de ocupações na área rural ¿ o maior número num estado ¿ Pernambuco não conseguiu aplicar no ano passado todos os recursos enviados para a reforma agrária. O estado teve de devolver R$85,5 milhões ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, deixando de assentar 3.076 das 6.800 famílias previstas para 2005, de acordo com a superintendente do Incra em Recife, Maria de Oliveira. A pressão pela terra é agravada com a situação pré-falimentar de engenhos e usinas da Zona da Mata. Segundo a Federação dos Trabalhadores de Agricultura de Pernambuco (Fetape), o número de empregados no corte de cana caiu de 250 mil na década de 80 para pouco mais de 80 mil nos dias atuais. A maior parte desses ex-canavieiros foi expulsa dos engenhos e passou a engrossar a profusão de siglas em que se transformou a área rural do estado: MST, CPT, OLC, MLT, MLST, entre outros.

Dificuldades até para notificar os fazendeiros

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, há 250 mil famílias necessitando de terra no estado, e 35 mil ¿ ou 175 mil pessoas ¿ estão em acampamentos de sem-terra, em fazendas, engenhos ou à margem das rodovias. Este ano, cinco líderes da cúpula estadual do MST tiveram prisões decretadas devido a conflitos de terras. Um foi preso. As prisões foram suspensas alguns dias depois. No ano passado, quatro agricultores foram assassinados em conflitos de terra e 22 chegaram a ser presos. Houve 101 ocupações de terra em Pernambuco.