Título: De olho na bola e nos lucros
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 19/02/2006, O PAÍS, p. 33

Copa da Alemanha deve movimentar R$6 bi e abrir 40 mil postos de trabalho

A seleção brasileira de futebol é favorita nas bolsas de apostas para ganhar a Copa do Mundo da Alemanha. Seria o hexacampeonato, algo sem paralelo na história da competição. No campo dos negócios, o Brasil se prepara para quebrar outro recorde. Especialistas estimam que a economia do país poderá movimentar pelo menos R$6 bilhões neste ano com lançamento de produtos, campanhas publicitárias, eventos e vendas que tenham a Copa como inspiração ¿ o dobro do que foi gerado em 2002, quando o horário das partidas no Japão e na Coréia obrigava o brasileiro a acordar ainda de madrugada. Também haverá um efeito positivo sobre o mercado de trabalho. A projeção é de quase 40 mil novas vagas, temporárias ou não. Na Zona Franca de Manaus, pólo de produção de eletroeletrônicos, o sindicato dos metalúrgicos já registrou a contratação de mil trabalhadores desde o início de janeiro. ¿ Como não existe uma metodologia para o cálculo, o que temos são estimativas ou aproximações. Mas o fato é que, dado o maior envolvimento emocional do torcedor brasileiro desta vez, a Copa da Alemanha vai gerar um volume recorde de negócios no país ¿ disse a presidente da Associação de Marketing Promocional (Ampro), Elza Tsumori.

Santander e Nívea: maiores campanhas

Segundo o presidente nacional da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap), Dalton Pastore, a perspectiva é otimista, principalmente para os setores de bebidas, varejo e eletroeletrônicos. ¿ Ano passado, o mercado publicitário movimentou R$32 bilhões e, este ano, estamos prevendo crescimento de 12,5%, para R$36 bilhões ¿ disse Pastore. Nessa cifra, a Copa do Mundo será fundamental. ¿ Em ano de Copa, é como se tivéssemos dois carnavais ¿ disse Adilson Xavier, presidente da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), que aposta num crescimento de 15% desse mercado. O publicitário Daniel Barbará, da DPZ, relacionou 20 grandes ações promocionais envolvendo a mídia, entre elas a milionária campanha do Santander (que, por US$100 milhões, escalou seis dos 11 jogadores titulares da seleção para falar do banco) e a da Nívea (estrelada pela modelo Gisele Bündchen, descendente de alemães). Só aqui, o ¿PIB da Copa¿ se aproxima de R$1,5 bilhão. Barbará considerou ainda a verba dos patrocínios nas transmissões dos jogos (R$500 milhões) e outros R$150 milhões na venda de produtos como camisetas, bolas e bandeiras verde-amarelas. A Ampro espera mais R$3,4 bilhões de gastos com o desenvolvimento e lançamentos de produtos, campanhas no ponto-de-venda, eventos e promoções, recursos esses que vão sair da área comercial das empresas. Para completar os R$6 bilhões, há a previsão de R$500 milhões a R$540 milhões com produção e venda de produtos promocionais, ou brindes. ¿ Se o Brasil sair vencedor, nosso faturamento apenas com a Copa pode chegar a R$1 bilhão ¿ projetou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Promocionais, Marcos Antonio Lucas. Responsável por uma empresa em São Paulo que fabrica bolsas e sacolas, Lucas recebeu na semana passada a primeira encomenda relacionada à seleção. A pedido de uma montadora, ele produziu cerca de três mil bolsas com a estampa da bandeira brasileira. Outro setor que também comemora as perspectivas de vendas é o de vestuário. As indústrias do setor começaram o ano com a previsão de produzir 460 milhões de peças de malha, mas esse valor pode até dobrar caso o Brasil chegue às finais ou vença a Copa. Pelo menos 200 milhões dessas peças, com motivos de Copa, vão chegar nos próximos dias ao varejo. São blusas, camisas, saias e bonés, entre outros, ao preço médio de R$5,35 cada. Nessa conta, entra a peça vendida nas boutiques de luxo da Zona Sul do Rio e de São Paulo e a que será encontrada em feiras populares e barracas de camelôs. ¿ Estamos falando de compras por impulso. Se o Brasil passar da primeira fase, o sujeito vai à loja e compra uma camisa para ele e para toda a família ¿ afirmou o presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), Roberto Chadad.

Nova chuteira de Ronaldo por R$600

O aquecimento do mercado por causa da Copa tem início bem antes do próprio evento. Empresas como a Nike começam até dois anos antes a trabalhar no desenvolvimento de projetos. A empresa lançou recentemente uma nova chuteira que será usada por Ronaldo. Apesar do preço salgado (cerca de R$600), é com este tipo de lançamento que a Nike espera ver seu faturamento aumentar 20% neste ano no ramo de calçados, dos quais dez pontos percentuais só no período da Copa. Outro trunfo da Nike é a nova camisa da seleção brasileira, lançada na semana passada. A expectativa é comercializar em 2006 quatro vezes mais camisetas do Brasil do que em um ano sem a competição mundial. Neste ano, a Nike espera vender em todo mundo um recorde de 23 milhões de pares de calçados de futebol, mais de dez milhões de bolas e mais de dois milhões de uniformes das oito seleções que patrocina e que vão para a Copa (além de Brasil, Austrália, Croácia Holanda, Coréia, México, Portugal e Estados Unidos). ¿ Nosso lançamentos estão programados até maio ¿ disse o diretor de Calçados da Nike do Brasil, Amadeu Aguiar Júnior.