Título: RODRIGUES: PREÇO SÓ CAI EM ABRIL
Autor: Cássia Almeida, Cláudia Fernandes e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 02/03/2006, Economia, p. 21

CURITIBA, BRASÍLIA e SÃO PAULO. O consumidor terá de esperar até o fim de abril para os preços dos combustíveis baixarem - só no fim do mês que vem é que a oferta e a demanda de álcool deverão se equilibrar. A avaliação é do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que classificou a situação de momentânea:

- Eu não quero fazer futurologia, mas esta é apenas uma minicrise do setor que deve ser solucionada provavelmente até o fim de abril - disse o ministro, que foi ao Paraná acompanhar o início da produção da Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), em São Tomé.

A Cocamar foi a primeira usina a iniciar a produção, atendendo ao apelo do governo de antecipação da safra, mas deve ser seguida por outras dez no início deste mês.

Para o diretor-técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, a situação deve ser regularizada em maio e o consumidor deve ter calma. Segundo ele, é normal os preços oscilarem na entressafra. O problema é que a falta de chuvas no fim do ano prejudicou a produção em estados como Paraná e São Paulo.

- Foi um ano atípico, com sério descasamento entre oferta e demanda. Mas a normalidade virá a partir de maio. É questão de calma - disse o diretor da Unica, que reúne 65% da produção nacional de cana.

Apesar de a produção de álcool em 2005 ter sido de 14,4 bilhões de litros, abaixo da previsão de 15 bilhões, a Unica reafirmou que não há risco de desabastecimento. Rodrigues também descartou essa possibilidade e disse que compraria um carro flex por não temer ficar sem álcool.

Redução na alíquota da Cide só será decidida semana que vem

Para Rodrigues, a crise é positiva pois leva os produtores de álcool a se esforçarem para atender à demanda crescente. Estima-se que até o fim de abril só o Centro-Sul produza 850 milhões de litros de álcool a mais, estabilizando o mercado. Para fontes do setor, não há mais medidas para forçar as usinas - e, na ponta, distribuidores e revendedores - a baixarem os preços. Já foi reduzida a mistura de álcool anidro à gasolina, de 25% para 20%, e zerada a tarifa de importação de álcool. A imposição de cotas ou sobretaxas às exportações de álcool e açúcar está praticamente descartada.

Segundo os técnicos, as usinas estão no limite da capacidade de produção dos dois itens. Portanto, não há indícios de que os produtores estejam trocando o álcool pelo açúcar, cuja cotação internacional subiu cerca de 80% em fevereiro frente ao mesmo mês de 2005.

Semana que vem, o governo decidirá o que fazer com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Com a redução do álcool misturado à gasolina, deve haver alta no preço desta e aumento da arrecadação da Receita, estimado em R$28 milhões, referente aos cem milhões de litros de gasolina que substituirão o álcool anidro. Isso poderia ser compensado por uma queda de dois centavos na alíquota da Cide, hoje de R$0,28 por litro. O governo também estuda usar os recursos da Cide - de R$7,5 bilhões em 2005 - para financiar a formação de estoques. Os usineiros pedem cerca de R$1 bilhão.

Dirigentes de distribuidoras e postos criticaram o governo por não ter feito a compensação na cobrança de PIS/Cofins e Cide para evitar a alta nos preços da gasolina. Segundo o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, com isso a arrecadação do governo vai passar de R$0,41 a R$0,43 por litro de gasolina. Ele disse que o governo aumentou a carga tributária e o consumidor é que está pagando por isso.

O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que a estatal deve reduzir em quase 40% as exportações de gasolina para atender à maior demanda interna estimada em 146 milhões de litros/ano, mas isso não reduz a estimativa de superávit comercial de US$3,1 bilhões da companhia este ano. As refinarias passarão a produzir mais nafta e importarão menos, compensando a perda das exportações de gasolina.