Título: DÓLAR CAI E BOLSA BATE RECORDE COM NOTA DA S&P
Autor: Luciana Rodrigues e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 02/03/2006, Economia, p. 23

RIO e BRASÍLIA. A melhora na nota do Brasil, anteontem, pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) levou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a atingir ontem o patamar inédito de 39.177 pontos e manteve o risco-Brasil no menor nível histórico (215 pontos centesimais), no primeiro dia de negócios após o feriado de carnaval. Na avaliação de analistas e economistas, a decisão da S&P, que já era esperada por boa parte do mercado, será acompanhada pelas outras duas grandes agências de classificação de risco, a Moody's e a Fitch, talvez ainda no primeiro semestre.

A Bolsa subiu 1,47% e estabeleceu o 14º recorde em pontos do ano. O dólar caiu 1,03% e fechou na mínima do dia: R$2,116. O risco-Brasil - que continuou sendo calculado no exterior apesar do feriado no Brasil - ficou estável em 215 pontos, mantendo o recorde da véspera.

Na última terça-feira, a S&P anunciou a elevação da nota da dívida em moeda estrangeira de "BB-" para "BB", a apenas duas classificações do grau de investimento (recomendação para investidores estrangeiros). O rating da dívida em moeda local subiu de "BB" a "BB+".

Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, lembra que, antes de comemorar, o país precisa investir em reformas e acelerar o ritmo de expansão. Em 2005, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) cresceu apenas 2,3%, segundo o IBGE.

- A nota da S&P sanciona a consistência do atual cenário macroeconômico, que alia metas de inflação com responsabilidade fiscal e câmbio flutuante. Isso, somado a um crescimento baixo, deve estimular o Banco Central (BC) a cortar até um ponto percentual da taxa Selic na semana que vem, para 16,25% ao ano. Mas, para não arriscar o que já conquistamos, o país precisa quebrar o ciclo de crescimento baixo com inflação baixa e partir para crescimento alto com inflação baixa. Para isso, terá que fazer reformas e investir pesado em infra-estrutura - diz Salomon.

Perfil da dívida externa melhorou, diz economista

Ricardo Amorim, chefe de pesquisa para a América Latina do WestLB em Nova York, afirma que o avanço brasileiro é conseqüência, principalmente, da melhora no cenário global:

- A nota de várias nações tem aumentado. As exportações do Brasil cresceram, assim como a de outros países que têm pauta comercial parecida com a brasileira. O cenário externo é preponderante.

A economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, avalia que a decisão da S&P reflete a melhora na dívida externa brasileira.

- Houve um ganho de qualidade nos últimos seis meses. O Brasil quitou a dívida com o FMI, pagou os débitos com o Clube de Paris e, até abril, terá antecipado o pagamento dos bradies. Antes, a carteira da dívida externa trazia títulos e compromissos que refletiam as dificuldades do passado. Agora isso não existe mais - afirma.

O boletim semanal Focus, divulgado ontem pelo BC, mostrou que os analistas esperam que o IPCA fique em 4,59% este ano, 0,5 ponto percentual abaixo da projeção de uma semana atrás. A taxa de câmbio deverá fechar 2006 a R$2,25.