Título: PIB NÃO DEVE ACELERAR CORTE DE JUROS
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 02/03/2006, Economia, p. 23

O baixo crescimento da economia brasileira em 2005 não deve acelerar a trajetória de corte dos juros básicos iniciada pelo Banco Central (BC) em setembro. O IBGE divulgou na semana passada que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas pelo país) cresceu só 2,3% no ano passado, menos da metade da expansão de 4,9% registrada em 2004. Mas os economistas acreditam que o BC continuará a reduzir os juros em 0,75 ponto percentual nas próximas reuniões do seu Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorrem a cada 45 dias. Na melhor das hipóteses, dizem os analistas, o atual ciclo de corte dos juros poderá ser prolongado.

- O Banco Central deve permanecer na sua estratégia de gradualismo - avalia Alexandre Bassoli, economista do HSBC, que não acredita num corte mais rápido dos juros e prevê uma taxa básica de 14% anuais no fim deste ano (hoje a taxa está 17,25% ao ano).

Para Ricardo Amorim, chefe de pesquisa para a América Latina do WestLB em Nova York, mesmo com o crescimento baixo de 2005 e a queda da inflação nas últimas semanas, o BC vai manter o ritmo de corte de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom, quarta-feira da semana que vem.

- Acho pouco provável qualquer aceleração, dado o conservadorismo do BC - diz Amorim.

Amorim acredita, porém, que poderá haver um ciclo mais longo de corte de juros, com o BC reduzindo a taxa por todo o segundo semestre deste ano. Sua estimativa é que a taxa básica chegue ao fim de 2006 em 14,5% ao ano.

Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimento, também acredita que o BC poderá prolongar o ciclo de corte de juros. Mas isso dependerá do ritmo de crescimento da economia neste início de ano.

- Se a atividade econômica se mostrar fraca, em vez de acelerar o corte dos juros, o BC poderá reduzir a taxa por mais tempo - afirma Sandra.

HSBC prevê crescimento de 3% no PIB este ano

Marcelo Salomon, do Unibanco, estima um corte de um ponto percentual na taxa básica de juros na semana que vem. Mas, na sua opinião, a redução mais forte dos juros será conseqüência não apenas do crescimento baixo do PIB, mas também da melhora na avaliação de risco do Brasil feita pela agência Standard&Poor's.

Qualquer que seja a estratégia do BC, as taxas de juros de longo prazo praticadas pelo mercado financeiro já recuaram com força nos últimos meses, destaca Bassoli, do HSBC. A taxa real para 12 meses (ou seja, descontada a projeção para a inflação nesse período) caiu de 13,5% em agosto do ano passado para 10% agora. Os juros mais baixos, aliados a uma política fiscal menos restritiva - com menor superávit fiscal e mais gastos públicos - devem elevar a demanda interna este ano, puxando o crescimento da economia, diz o economista.

Bassoli projeta para 2006 uma expansão de 3% do PIB. Como a economia partirá de um patamar mais baixo em 2006 (já que o crescimento de 2005 foi muito pequeno) será preciso uma expansão de 4% anuais, a cada trimestre, para o avanço do PIB chegar aos 3%. Além disso, as importações deverão crescer a um ritmo mais forte do que as exportações. Por isso, a demanda interna precisará ser maior do que em 2004 (quando o PIB cresceu 4,9%) para a economia registrar expansão de 3%, calcula Bassoli.