Título: Pesada demais
Autor:
Fonte: O Globo, 04/03/2006, OPONIÃO, p. 6

Acarga tributária no Brasil aumentou para 38% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, conforme estimativas feitas a partir de dados preliminares divulgados pelo IBGE. Ainda assim, as contas do setor público encerraram 2005 com um déficit expressivo, superior a 3% do PIB. Para se diminuir a carga tributária, será necessário atacar as causas desse déficit. Em função da melhora no perfil das dívidas interna e externa, há uma tendência clara de redução nas taxas de juros, o que deve diminuir nos próximos anos os encargos financeiros que hoje sobrecarregam o Tesouro Nacional e também os tesouros estaduais e municipais. Por outro lado, a contribuição dos investimentos públicos para a infra-estrutura se tornou quase irrelevante, e sem uma recuperação deles o país pode se deparar com gargalos que impedirão qualquer retomada mais substancial do crescimento econômico. Desse modo, o ajuste nas finanças governamentais terá de ocorrer forçosamente nos gastos de manutenção (o chamado custeio da máquina pública) e no sistema previdenciário. As transferências para programas sociais também estão chegando ao limite. Reformas estruturais são necessárias porque facilitam esse ajuste, mas grande esforço também terá de ser feito num verdadeiro choque de gestão no setor público. A ineficiência na gerência desses recursos é alarmante no Brasil. Isso fica evidente com o grande aumento da carga tributária ocorrido no Brasil, pois em dez anos a receita cresceu consideravelmente em proporção do PIB sem que os serviços prestados à população pelo setor público evoluíssem em igual proporção. Esse aumento de carga tributária, por sua vez, concentrou-se nos impostos e nas contribuições que mais penalizam a produção. Reduzir essa carga tributária sem dúvida será um dos grandes desafios do próximo governo, pois com o nível atual dificilmente a economia brasileira apresentará um crescimento mais robusto.