Título: MAIS UM QUARTEL ATACADO
Autor: Cristiane de Cássia
Fonte: O Globo, 04/03/2006, RIO, p. 10

Sete encapuzados invadem unidade em São Cristóvão e roubam dez fuzis e uma pistola

Bandidos voltaram a atacar uma unidade militar no Rio. Sete homens armados invadiram ontem de madrugada o Estabelecimento Central de Transporte (ECT), do Exército, em São Cristóvão, e roubaram dez fuzis e uma pistola. Usando roupas de camuflagem e toucas ninjas para não serem identificados pelas câmeras das portarias, eles provavelmente entraram por um portão lateral. Os bandidos atravessaram todo o quartel a pé, renderam os soldados que descansavam na sala do corpo da guarda e arrombaram o armário onde estavam as armas usadas por esses militares. O serviço de inteligência do Comando Militar do Leste (CML) suspeita que um ex-cabo do Exército tenha participado da ação ou do seu planejamento. Ele seria morador da favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, que foi ocupada ontem por 300 militares do Exército e 30 PMs. ¿ O quartel atacado ontem foi bem escolhido pelos bandidos porque não é operacional, ou seja, os soldados são menos preparados para confronto que outros. Pela forma como os bandidos agiram, usando toucas ninjas por causa das câmeras e indo ao local certo onde estavam as armas, tratava-se de gente que tinha algum conhecimento sobre a unidade ¿ disse o coronel Fernando Lemos, do Setor de Relações Públicas do CML. A unidade atacada é responsável pelo recebimento de vários produtos encaminhados ao Exército, como fardas, alimentos e material de escritório, mas não armamento. Os produtos são depois distribuído a outros quartéis. Tanto os portões laterais quanto o principal ¿ na Rua Monsenhor Manuel Gomes ¿ têm guaritas, câmeras e cercas eletrificadas. Nada disso impediu o ataque, o primeiro sofrido pela unidade.

Quadrilha também agrediu militares

A ação aconteceu por volta das 3h50m. Os criminosos invadiram o quartel provavelmente pelo portão lateral da Rua Santos Lima, por onde costumam entrar carretas com produtos. Segundo a assessoria do CML, apenas um soldado que estava numa guarita viu a movimentação dos sete homens, mas alegou ter pensado que se tratava da troca de guarda. Na sala do corpo da guarda ficam os sentinelas que descansam à espera do seu turno. Quando os bandidos chegaram ao local, próximo ao portão principal, fizeram um disparo para o alto. Eles arrebentaram o cadeado do armário, pegaram os fuzis FAL 7.62 e a pistola 9mm, e ainda agrediram três soldados. Os militares levaram coronhadas na cabeça e em outras partes do corpo. ¿ O quartel tem cinco guaritas com três soldados para cada. Enquanto um trabalha, dois descansam. Os fuzis roubados eram desses que estavam dormindo e a arma, do guarda ¿ disse o coronel Fernando Lemos. A ação foi rápida e os assaltantes não chegaram a roubar as armas dos sentinelas que estavam nas guaritas. Os criminosos saíram a pé pelo portão principal e, já na rua, fugiram em carros dirigidos por cúmplices. Um dos veículos parecia ser um Palio, mas sua placa não foi anotada. Militares acreditam que os cúmplices dos bandidos ficaram circulando em torno do quartel durante a ação ou foram acionados por rádio ou celular. Foi aberto um inquérito policial-militar (IPM) para investigar o caso e o comando do quartel vai solicitar ao Ministério Público que indique um promotor para acompanhar os trabalhos. As fitas do circuito interno de TV podem ajudar na apuração e todos os militares que estavam na unidade serão ouvidos. A Secretaria de Segurança Pública foi acionada para ajudar na investigação e na recuperação do armamento. O prazo do IPM do CML é de 40 dias, prorrogável por mais 20.