Título: Paulisfera
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 03/03/2006, O PAÍS, p. 2

O rebuliço nacional causado pela pesquisa regional do Ibope sobre a eleição paulista mostra o quanto a política brasileira é regida por São Paulo. Uma pedra que se move lá, petista ou tucana, afeta o tabuleiro nacional. A novidade tucana foi a revelação de que o governador Geraldo Alckmin venceria o senador Suplicy, tido como imbatível, para o Senado. O alívio tucano com esta possibilidade de acomodação da disputa interna foi breve: o governador avisou que isso não altera seus planos. É candidato a presidente e ponto. E disse mais: o fato de o prefeito José Serra dizer sim à candidatura não significa que ele, Alckmin, desistirá. Se é para valer, de duas, uma. Ou a cúpula tucana que prefere Serra engole Alckmin para não rachar o partido, ou o PSDB vai para a disputa interna, a pior das saídas. A pesquisa Ibope traz outro alerta aos tucanos: engalfinhados pela candidatura presidencial, estão deixando em segundo plano a conservação de seu principal domínio. O partido não tem, hoje, candidato competitivo ao governo. Se Serra entrega a prefeitura ao PFL, e Alckmin faz o mesmo, podem perder tudo. O pré-candidato mais bem colocado é o vereador e ex-deputado José Aníbal, com 4%. Mas a maioria dos tucanos preferiu desqualificar a pesquisa, dizendo que foi feita para servir à disputa interna no PT entre Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante. Marta, é fato, serviu-se bem da pesquisa. Seu marido Luis Favre está disparando por mala direta eletrônica os números que a colocam como única candidata capaz de derrotar o favorito e renascido Orestes Quércia. Ela com 26%, ele com 20%. Quando o candidato é Mercadante, que alcança apenas 14%, Quércia assume a dianteira com 26%. Mas no PT as prévias não são tabu. Estão marcadas para 7 de maio. Em relação à disputa presidencial, outro aviso para os tucanos: Lula está crescendo forte também em São Paulo, empatando com os dois possíveis candidatos do PSDB. Muitos são os fatores que fazem Lula crescer. Mas assim como a população em geral já enjoou do escândalo e da crise, o eleitorado paulista pode estar se cansando da novela tucana, que ontem foi assunto até no "New York Times".