Título: DEFESA DO MULTILATERALISMO EM LONDRES
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 05/03/2006, O País, p. 8

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca amanhã à noite em Londres, para uma visita de Estado de três dias ao Reino Unido, disposto a defender, em um discurso que fará quarta-feira no Parlamento britânico, o multilateralismo em todas as suas formas. Num pronunciamento de cerca de dez minutos, Lula vai enfatizar que o Brasil não aceita decisões unilaterais. Sua mensagem valerá tanto para as questões discutidas no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), que estão travadas devido à intransigência dos países mais ricos do mundo, especialmente os da União Européia.

Lula destacará o empenho de brasileiros e britânicos no combate à fome e à pobreza no mundo, tema de encontros seus com o primeiro-ministro Tony Blair. Falará sobre a necessidade de cooperação científica e tecnológica entre os dois países e reforçará que o Brasil está empenhado na criação de uma taxa sobre as passagens aéreas, para ajudar na distribuição de medicamentos aos povos mais pobres do planeta.

Ponto alto é encontro com Blair de duas horas na quinta

Durante sua estada em Londres, além de todos as cerimônias protocolares com a família real, Lula conversará com a nata do empresariado britânico em busca de investimentos e novos negócios para o Brasil. Um dos desafios do presidente é estimular a ampliação do comércio bilateral Brasil-Reino Unido, em torno de US$4 bilhões por ano. O leque de produtos a serem promovidos é amplo, de tabaco a etanol e aviões.

Politicamente, o ponto alto da viagem de Lula será na quinta-feira, último dia da visita, quando ele terá um encontro de duas horas com Blair. Segundo assessores, Lula insistirá no projeto de realizar uma cúpula de líderes mundiais para destravar as negociações da OMC. E, impulsionado por seu sonho de emplacar o Brasil numa vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o presidente brasileiro defenderá uma urgente reformulação no organismo.

O esforço de Lula quanto à OMC se justifica pelo fato de, no dia seguinte ao seu retorno ao Brasil (dia 10) ter início um encontro ministerial com os representantes dos principais países associados à organização, entre eles o chanceler Celso Amorim e seus colegas da União Européia, dos Estados Unidos, do Japão e da Índia. Tratam-se dos grandes protagonistas do processo negociador que vem se arrastando há cerca de cinco anos, denominado Rodada de Doha.

Verba para centro de pesquisa da Aids no Brasil

Ainda durante o encontro entre Lula e Blair, serão assinados memorandos de entendimento para as áreas de ciência e tecnologia, saúde, educação e mudança climática. Existe a expectativa de que Blair anuncie a liberação de recursos para financiar a abertura de um centro de pesquisas ligado ao Programa Integrado das Nações Unidas para HIV/AIDS (Unaids) no Brasil.

Em algum momento da visita, um tema delicado deverá ser abordado pela rainha Elizabeth II, quando ela estiver com o presidente Lula, que ficará hospedado, junto com dona Marisa e comitiva, no Palácio de Buckingham. Espera-se que Elizabeth II apresente um pedido velado de desculpas pela morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado pela Scotland Yard, em julho do ano passado, que o confundiu com um terrorista.

Lula é o terceiro presidente brasileiro a fazer uma visita de chefe de Estado ao Reino Unido. Antes dele, fizeram visita semelhante naquele país Ernesto Geisel e Fernando Henrique Cardoso. Esse tipo de visita requer pompas, como o transporte do presidente brasileiro de carruagem até Buckingham e banquete com a família real.