Título: LULA DEFENDE POLÍTICA ECONÔMICA E DIZ QUE PAÍS NÃO TEM PRESSA PARA CRESCER
Autor:
Fonte: O Globo, 03/03/2006, ECONOMIA, p. 22

Em entrevista, presidente afirma que primeiro é preciso consolidar economia

Em entrevista à revista britânica especializada em economia e política "The Economist", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a política econômica de seu governo, afirmando que o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto das riquezas produzidas no país) - de apenas 2,3% em 2005, segundo divulgou o IBGE no último dia 24 - não é uma preocupação. "Não estamos com pressa para fazer a economia decolar imediatamente. Primeiro, queremos consolidar a base macroeconômica do Brasil, para alcançar um ciclo de crescimento que possa durar por dez, 15 anos, algo que os economistas chamam de crescimento sustentável", disse Lula. O presidente afirmou que é preciso prudência, e que o governo não pode deixar se abater pelas críticas: "Faremos o sacrifício que for necessário agora, para que o país possa ter um crescimento de 15 anos." Ele também negou que existam divergências entre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que defende um menor esforço fiscal do governo, e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Para Lula, os dois só não concordam com o timing.

Lula diz que não elevou impostos em seu governo

Ao falar sobre o peso dos impostos no Brasil, Lula disse que em seu governo não aumentou nenhum tributo. A arrecadação cresceu, segundo ele, devido à combinação de crescimento dos lucros das empresas com um sistema mais eficiente. Ele também destacou a série de isenções e descontos de impostos que alguns setores da iniciativa privada obtiveram para estimular a economia, como o da construção civil. Perguntado sobre o que vai falar com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em viagem à Inglaterra que começa na segunda-feira, Lula afirmou que pretende convencer Blair de que as negociações em andamento na Organização Mundial do Comércio (OMC) são muito importantes para ficarem apenas a cargo dos negociadores. "Temos que reunir os chefes de estado para decidir sobre questões essenciais", disse Lula na entrevista. Lula voltou a frisar a importância de um acordo comercial que possibilite aos países pobres um maior acesso aos mercados agrícolas dos países ricos, frisando que estas nações e os emergentes terão fazer concessões para que um acordo seja possível. Sobre o Mercosul, Lula disse que os países do bloco amadureceram e não temem mais as divergências comerciais. Segundo ele, o recente acordo com a Argentina, que permite a adoção de salvaguardas quando um setor for afetado pela importação de produtos brasileiros, foi uma concessão do Brasil.