Título: CPI DOS BINGOS DEVE PROPOR UM PLEBISCITO PARA LEGALIZAR O JOGO
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 05/03/2006, O País, p. 13

BRASÍLIA. Polêmica à vista na CPI dos Bingos: a 50 dias da data marcada para seu término, a comissão planeja incluir no relatório final a proposta de realização de um plebiscito para a legalização dos jogos de azar, incluindo os bingos, cassinos e até o jogo do bicho. A idéia partiu do presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), e conta com a simpatia do relator, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que já trabalha na confecção do documento que fechará os trabalhos da comissão.

Os dois estudam o melhor caminho para viabilizar o plebiscito. A princípio, seria proposto em forma de projeto de lei e teria de passar pelo crivo do Congresso. A consulta teria os moldes da realizada ano passado, na qual os brasileiros rejeitaram a proibição do comércio das armas de fogo, com campanha em rádio e TV polarizadas entre dois grupos, contrário e favorável à mudança na lei.

¿ Esta não é uma decisão do governo ou do Congresso, mas sim da sociedade. O plebiscito é o melhor caminho ¿ diz o presidente da CPI, que faz mistério de sua opinião sobre o tema.

Senador encomendou pesquisa de opinião

Efraim afirma que, se houver tempo hábil, o plebiscito pode acontecer junto às eleições deste ano, em outubro. Caso contrário, ficaria para a disputa municipal de 2008:

¿ Não queremos que o plebiscito aconteça isoladamente, isso geraria custos altos. Junto com a eleição, basta acrescentar mais uma pergunta na urna eletrônica.

O desejo de Efraim de realizar o plebiscito é tanto que ele encomendou esta semana uma pesquisa de opinião ao Senado, que ganha as ruas nos próximos dias. Quer saber se a população deseja ser ouvida sobre o tema. O resultado deve sair este mês.

A proposta reacendeu a discussão sobre a legalização dos jogos. Uma das vozes mais enfáticas na luta contra os bingos, o promotor de Justiça e secretário de Segurança do Paraná, Luiz Fernando Delazari, diz que a consulta representa um retrocesso gigantesco no combate à criminalidade. Em sua cruzada contra os jogos de azar, Delazari sustenta que a atividade é hoje a maior e mais eficiente fonte de lavagem de dinheiro do crime organizado, especialmente do tráfico de drogas.

¿ Isso não é só no Brasil, acontece em todo mundo. E o mais grave é que não existe um estado que tenha conseguido montar uma estrutura capaz de fiscalizar a lavagem de dinheiro. Se você jogar dinheiro sujo na contabilidade de um bingo e disser que o dinheiro chegou lá pelos jogadores, quem vai provar o contrário? ¿ questiona.

Empresários preparam abaixo-assinado

Já os empresários de bingos, grupo coeso e muito rico, se apóiam no binômio emprego e renda para defender a atividade. Segundo o Movimento pró-Bingo, que comanda a elaboração de um abaixo-assinado para ser enviado à CPI, o país tem hoje cerca de 1.100 casas de bingo, das quais 600 estão abertas graças a liminares judiciais. Em São Paulo estão 50% delas.

¿ A proibição dos bingos (decretada por medida provisória em 2004) acabou com 120 mil empregos. O governo deixa de ganhar R$2,5 bilhões por ano em impostos. Somos o único setor que vai a Brasília oferecer dinheiro ¿ argumenta o presidente do Movimento pró-Bingo, Carlos Canto, que teve dois bingos fechados em Curitiba com a MP.