Título: Dama-de-ferro da direita
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 05/03/2006, O Mundo, p. 35

PARIS. Ela está longe da imagem de mãe de família sorridente da sua concorrente, a socialista Ségolène Royal. Ao contrário: Michèle Aillot-Marie, até pela posto que ocupa no governo de direita de Jacques Chirac ¿ ministra da Defesa ¿ mais parece uma dama-de-ferro.

Gaulista, 59 anos, fiel escudeira de Chirac num momento em que o presidente bate recordes de impopularidade, Aillot-Marie tem uma longa trajetória na direita francesa. Ela foi presidente do partido UMP ¿ que sustenta o governo ¿- quando ele se chamava RPR.

O partido é tradicionalmente dominado por homens.

Na época que se apresentou candidata, ninguém acreditou que chegaria ao comando do partido. Mas ela conseguiu. É considerada uma mulher de convicções fortes, veste-se com sobriedade e gosta de ser chamada de ¿le ministre¿ (o ministro).

Aillot-Marie não se declara candidata à Presidência da França. Mas também não descarta esta possibilidade, o que a coloca na lista de presidenciáveis da direita francesa.

Ela tem um percurso em comum com Ségolène, a candidata a candidata do PS: é advogada.

Mas ao contrário de Ségolène, que é popular não apenas dentro de seu partido como junto à população francesa, as chances de Aillot-Marie decolar como candidata da direita são muito pequenas.

Isso por dois motivos: no UMP, ela terá que concorrer com o político de direita mais popular da França, o ministro do interior, Nicolas Sarkozy, e também com o primeiro-ministro, Dominique de Villepin.

Como Ségolène, Aillot-Marie também se defende de ataques machistas:

¿ Quando apresentei minha candidatura à Prefeitura de San Juan de Luz, me disseram que uma mulher jamais se elegeria. O mesmo aconteceu quando me apresentei a presidente do RPR (atual partido UMP) ¿ declarou Aillot-Marie.

Casada com Patrick Ollier, um deputado do UMP, é ela quem se destaca no casal. Ela se tornou ministra da Defesa em maio de 2002, depois de ter ocupado o Ministério da Juventude e dos Esportes, entre 1993 e 1995.

Mas suas chances de lutar para ser candidata à Presidência diminuíram muito no mês passado por causa da forma como ela lidou com a controvérsia envolvendo o porta-aviões francês Clemenceau.

Várias organizações, como o Greenpeace, iniciaram uma dura batalha contra o governo, acusando o ministério de Marie-Aillot de ter vendido o porta-aviões para a Índia cheio de produtos tóxicos, como amianto.

Jacques Chirac, furioso, acabou tendo que ordenar a volta do navio de guerra, que já tinha feito três meses de viagem. Na brincadeira, o governo francês gastou mais de um milhão de euros (R$2,5 milhões).