Título: O PODER FEMININO NA FRANÇA
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 05/03/2006, O Mundo, p. 35

Pela primeira vez, as mulheres têm chance de chegar à Presidência da França. E uma delas, em especial: a socialista Ségolène Royal, conselheira do ex-presidente François Mitterrand, ministra três vezes, mãe de quatro filhos e mulher do secretário-geral do Partido Socialista, François Hollande. A outra, a ministra da Defesa do governo do presidente Jacques Chirac, Michèle Aillot-Marie, a dama-de-ferro da direita francesa, não é candidata oficialmente à Presidência, mas é considerada por analistas uma potencial concorrente de Ségolène.

Num ambiente político dominado pelos homens e tipicamente machista, o fenômeno Ségolène está provocando um furacão. Sondagens mostram que mulheres de direita admitem que poderão votar nela. Ela bate em popularidade todos os pesos-pesados do PS e da esquerda em geral.

Mossuz Lavau, politóloga do Centro de Estudos da Vida Política Francesa (Cevipof), em Paris, diz que a popularidade de Ségolène não vem apenas do fato de ela ser mulher. É o resultado do que ela chama de ¿crise de representação¿, isto é, falta de confiança nos homens políticos.

¿ Os franceses exprimem nessa intenção de voto (a favor de Ségolène) a necessidade de diversidade, de novidade, de mudança. Eles têm a impressão que os políticos estão longe e não levam em consideração seus problemas. E querem uma cabeça nova, alguma coisa de diferente. E Ségolène Royal aparece como uma novidade, porque é mulher, jovem.

Segundo Lavau , os franceses já há anos têm se mostrado favoráveis a uma candidatura feminina. Nos anos 90, houve sondagens em que mais de 80% dos franceses eram favoráveis a uma mulher presidente da República. E agora isso subiu para 94%.

Os franceses esperam que uma mulher no poder escute mais seus problemas. Ségolène, quando se elegeu em 2004 presidente de Poitu-Charentes ¿ feudo do então premier conservador Jean-Pierre Raffarin ¿ deixou a marca de política que conhece os eleitores.

A França segue o rastro da Alemanha, com Angela Merkel, e do Chile, com Michele Bachelet. Mas Lavau é cautelosa quanto à tendência:

¿ Isso é novidade e um sinal forte que mostra que as coisas estão mudando. Mas não devemos exagerar o fenômeno. Em 180 países, apenas 11 são dirigidos por mulheres. Ainda estamos no começo ¿ diz.