Título: DAC PAROU UM AVIÃO PARA GENERAL EMBARCAR
Autor: Chico Otávio e Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 06/03/2006, O PAÍS, p. 4

Aeronáutica confirma atuação do órgão para evitar que o comandante do Exército perdesse vôo para Brasília

O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer) confirmou ontem que o comandante do Exército, general Francisco de Albuquerque, contou com a ajuda do Departamento de Aviação Civil (DAC) para embarcar num vôo da TAM para Brasília, no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), quando o avião já estava em procedimento de decolagem, em direção à cabeceira da pista. O Cecomsaer informou que o DAC ¿atuou para solucionar um caso de overbooking (a situação ocorre quando o número de passageiros com passagem comprada é maior do que a capacidade do avião)¿. Este procedimento é rotina no DAC, órgão ligado à Aeronáutica, mas normalmente acontece durante o embarque e não com o avião já em movimento.

Outras 14 pessoas na mesma situação não viajaram

Além do general, outras 14 pessoas enfrentaram a mesma situação no vôo da TAM para Brasília, mas não conseguiram embarcar. Como o jornalista Elio Gaspari revelou ontem, o general Albuquerque chegou ao aeroporto, na Quarta-feira de Cinzas, 15 minutos antes da hora do embarque do seu vôo para Brasília. O vôo estava fechado e lotado porque ocorrera um overbooking. Autorizado pela empresa, o avião já taxiava, rebocado por um trator, o chamado pushing back, quando recebeu uma determinação do DAC para parar e abrir as portas. Um casal de passageiros desceu, cedendo lugar ao general e sua mulher. A TAM informou que, avisado sobre o overbooking, o general recorreu à Seção de Aviação Civil (SAC), coordenada pelo DAC. Quando o avião recebeu uma ordem da torre para retornar, a TAM pediu a apresentação de dois voluntários que dessem lugar ao general. As duas pessoas teriam se oferecido voluntariamente. A empresa aérea não soube informar se foram oferecidas compensações aos dois voluntários. Ainda segundo a TAM, nenhuma reclamação pelo procedimento chegou à empresa até ontem. Por causa da peculiaridade do caso, a Infraero, empresa pública que administra os aeroportos brasileiros, relatou o acontecimento no seu livro de ocorrências, segundo informou ontem sua Superintendência de Comunicação. Segundo funcionários antigos da Infraero, que pediram para não ter seus nomes divulgados, o último registro neste sentido aconteceu no regime militar, durante o governo Figueiredo, quando o então ministro da Fazenda, Ernani Galvêas, conseguiu que um avião DC-10 da Varig que partira de Nova York em direção ao Rio pousasse em Brasília, apenas para que ele descesse. O caso irritou funcionários da Infraero: ¿ Quando lemos a reportagem do Gaspari, que brinca com a possibilidade de se criarem os Grupos Especiais de Embarque Imediato, não demos risada, porque há um fundo de verdade. Na nossa opinião, o marechal colocará um coronel em cada aeroporto do Brasil. Aí, Nossa Senhora, a patuléia terá mesmo que ceder seus lugares__ afirma um alto funcionário da Infraero. Conselheiro da Infraero, o advogado Airton Soares comentou ontem que o general Albuquerque é um democrata e dificilmente tomaria uma atitude como a de Viracopos. ¿ Prefiro crer que se tratou de uma emergência grande. Parar um avião em procedimento de vôo para atender a um interesse pessoal de um general não me parece uma atitude democrática.