Título: Falsa alternativa
Autor:
Fonte: O Globo, 06/03/2006, OPINIÃO, p. 6

Ocombate eficiente à violência é um desafio tão grande para o país quanto a redução da pobreza e dos desníveis sociais. O agravamento da situação da segurança pública, principalmente nas regiões metropolitanas, teve pelo menos um efeito positivo, o de dar destaque ao problema. O tema já teve algum espaço nas eleições de 2002 e espera-se que ganhe ainda mais importância nos debates das deste ano. Já se foi o tempo em que candidato a presidente da República podia passar ao largo da questão, sob o argumento de que segurança é assunto da esfera dos estados e dos municípios. Não é mais. No governo Lula isso ficou claro. O PT, ainda na campanha de 2002, apresentou uma proposta bem formulada, baseada na integração das forças policiais, em todos os níveis administrativos ¿ esfera federal, estados e municípios. O modelo não foi seguido em alguns estados por querelas político-eleitorais. Mas comprovou-se que o trabalho coordenado é fundamental no combate a um crime cada vez mais articulado nacional e internacionalmente. Como não poderia deixar de ser, a escassez de recursos federais para a segurança pública tem sido uma reclamação constante dos governadores. Há, de fato, a necessidade de contenções orçamentárias, por razões fiscais. Até por isso estados e municípios deveriam desenvolver políticas de combate à violência criativas e de baixo custo. Há casos bem-sucedidos na região do ABC paulista. Há setores da máquina pública em que a demanda por recursos é infinita. Segurança é um deles. Daí a importância do bom administrador, que sabe trabalhar com escassez de meios. É ilusório achar que a criação de mais uma vinculação orçamentária é uma fórmula infalível. Além de engessar os orçamentos, e com isso impedir a redefinição de prioridades pelo administrador público, essa alternativa apenas cria a falsa idéia de que os problemas serão resolvidos. As mazelas na saúde e na educação, onde já há vinculações orçamentárias, são a prova dessa ilusão.