Título: FALTA DE PESSOAL AMEAÇA PROTEÇÃO DE FLORESTAS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 06/03/2006, O PAÍS, p. 9

Dos 6,4 mil servidores do Ibama dois mil estão na Amazônia, onde há 140 unidades de conservação federais

BRASÍLIA e BELÉM. No mês passado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou a extensão de terras protegidas na Amazônia para mais de 45,8 milhões de hectares, uma área dez vezes maior que o estado do Rio de Janeiro. Mas se avança na criação de unidades de conservação e de proteção ambiental, o governo esbarra no problema da falta de funcionários para cuidar de tanta floresta preservada. O Ibama tem 6.400 servidores no país. Desses, quase 2 mil, incluindo pessoal de administrativo, fiscais e analistas ambientais, trabalham na Amazônia. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, há 140 unidades de conservação na Amazônia Legal. Dessas, 45 são áreas de proteção integral, como parques nacionais e estações ecológicas.

Número ideal de servidores do órgão seria de 13 mil

O presidente da Associação Nacional dos Servidores do Ibama, Jonas Correa, diz que não há estrutura física nem de pessoal para o órgão fiscalizar esses milhões de hectares. Ele lembra que na fundação do Ibama, em 1989, estimava-se o número ideal de servidores em 13 mil. Segundo ele, um problema enfrentado pelo Ministério do Meio Ambiente é a manutenção do servidor no órgão. Muitos dos aprovados no concurso de analista ambiental estão deixando a carreira em busca de salários. O salário inicial do analista, responsável pela fiscalização na ponta, é de R$2,5 mil. O Ministério do Meio Ambiente amplia a dimensão de parques e florestas na Amazônia para tentar acabar com os conflitos fundiários e com a degradação ambiental. Semana passada, Lula sancionou a Lei de Gestão Florestal, que destina parte da área para exploração da iniciativa privada, desde que mantidas regras de preservação e que a exploração dos bens naturais seja sustentável. O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, rebate as críticas e diz que a Amazônia viveu um surto de grilagem nos últimos anos, com concessões predatórias. Terras onde são praticadas uma sucessão de ilícitos, como a baixa produtividade e a exploração de trabalho escravo. ¿ Há 23 anos o Incra não titulava terras na Amazônia, ocupada por fraudadores e invasores. Está sendo feita uma varredura. Estamos atuando contra a grilagem de terra ¿ disse. Para ele, a nova lei muda uma visão histórica da região: ¿ Pela primeira vez, a atividade florestal vai gerar recurso para floresta (Fundo de Desenvolvimento Florestal). Capobianco reconhece que o ¿calcanhar de Aquiles¿ será a capacidade de implementar o programa. ¿ Fazer desenvolvimento sustentável no Brasil é nadar contra a maré.