Título: ENFRENTANDO A VELHICE EM GRUPO NA CALIFÓRNIA
Autor: Patricia Leigh Brown
Fonte: O Globo, 06/03/2006, O MUNDO, p. 22

Idosos vivem em casas próximas com áreas comuns em empreendimentos desenvolvidos por eles próprios

DAVIS, Califórnia. Eles não são revolucionários. Exibindo bengalas e manuais sobre doenças, os 12 velhos amigos ¿ com média de 80 anos de idade ¿ parecem pessoas que se sentariam à mesa para jogar cartas, e não pioneiros formadores de um novo tipo de comunidade. Optando por uma velhice a seu modo, eles estão iniciando um novo capítulo em suas vidas como moradores de Glacier Circle (Círculo Glacial), o primeiro empreendimento de moradia para idosos autoplanejado nos EUA ¿ uma comunidade que eles próprios planejaram e conceberam. Nos últimos cinco anos, os moradores de Glacier Circle encontraram e compraram terra juntos, contrataram um arquiteto juntos, resolveram questões de seguro juntos, planejaram uma mudança juntos e agora experimentam a sensação de viver juntos. ¿ Aqui você tem que escolher uma família, em vez de nascer nela. Nós reconhecemos que quando você está fisicamente próximo do outro, prestas mais atenção, visita mais o outro. A idéia é compartilhar cuidados ¿ diz Peggy Northup-Dawson, de 79 anos, terapeuta familiar aposentada e mãe de seis filhos.

Projetos do tipo já são aproximadamente 12

Quatro casais, dois viúvos e duas pessoas que moravam sozinhas vivem agora em oito casas individuais agrupadas em torno de um pátio. Ainda está em construção a ¿casa comunitária¿, com sala de estar, uma grande cozinha e sala de jantar comunitária. No andar de cima, há um apartamento que eles vão alugar para um enfermeiro que ajudará a cuidar deles. ¿ Isto é um reconhecimento de que a intimidade não acontece por acaso ¿ diz John Jungerman, de 84 anos, físico nuclear aposentado e um dos vários PhDs do grupo, que permanentemente usa meias roxas e sandálias. Sua mulher, Nancy, afirma sobre a comunidade: ¿ De início, John disse, ¿não sou velho o bastante.¿ E eu disse: ¿Você tem 80 anos. Quantos anos acha que tem que ter?¿ Aproximadamente uma dúzia de projetos desse tipo para idosos estão sendo desenvolvidos nos EUA, do Novo México à Flórida, num movimento novo para viver comunitariamente ¿o desafio de envelhecer fora das instituições¿, como afirma Charles Durett, arquiteto que importou da Dinamarca do fim dos anos 60 o conceito de co-habitação: pessoas que compram casas numa comunidade que elas próprias planejam e desenvolvem. Embora a moradia comunitária para idosos seja nova, comunidades para pessoas de várias gerações existem desde 1991, quando a primeira delas foi aberta em Davis, esta cidade universitária politicamente progressista da Califórnia. Hoje, são 82 no país. Em Abingdon, Virgínia, moradores estão começando a se mudar para ElderSpirit, projeto criado por uma ex-freira de 76 anos, Dene Peterson. A comunidade de 37 pessoas demorou dez anos para ficar pronta e inclui uma ¿casa espiritual¿ para preces e meditação. ¿ Eu pensei que deveria haver um modo melhor de as pessoas idosas viverem ¿ afirma Dene, que fundou com dois outras ex-freiras uma corporação sem fins lucrativos e acrescentou vários fundos privados e governamentais (16 das 29 unidades são moradias subsidiadas). Dane diz ter se inspirado em seu trabalho com moradores de asilos para idosos em Chicago nos anos 60.

Recriação de uma experiência dos anos 60

Com milhões de pessoas da geração do baby boom (pós-guerra) se aposentando, gerontologistas e empreendedores estão olhando com mais interesse as moradias comunitárias para idosos, e elaborando sobre a mitologia de uma geração que já inclui comunidades e dormitórios universitários. Gerontologista e consultora de moradia em Denver, Janice Blanchard afirma que na moradia cooperativa ¿a consciência social dos anos 60 pode volta a ser expressada¿. Os baby boomers, prevê, ¿vão querer recriar a experiência do auge de suas vidas¿. ¿ Seja um grupo de debates ou um dormitório universitário, o denominador comum era a comunidade ¿ diz ela. Psicólogo aposentado de 79 anos e único homem solteiro de Glacier Circle, Rich Morrison só desistiu recentemente de seu hobby: nadar nas grandes correntezas do Rio Colorado. ¿ Emocionalmente, não há motivo para eu não continuar a crescer até os 100 anos. Tenho sorte ¿ afirma. Morrison é viúvo e duas vezes divorciado. Como outros do grupo que têm lutado para enfrentar cada perda ¿ desde o suicídio de um filho à morte de uma esposa ¿ ele fala sobre ser capaz agora de fazer ¿escolhas do coração¿. Já Lois Grau, de 87 anos, afirma, referindo-se ao marido que morreu há três anos: ¿ Tenho vivido sozinha. Pequenas coisas que estão errada ele teria consertado. Lois e seus amigos se conhecem há quase 40 anos e criaram seus filhos no mesmo bairro. Muitos moradores se reuniram por meio da Igreja Universalista Unitária, e ainda começam os encontros semanais prometendo ¿ouvir atentamente¿ um ao outro. Davis é conhecida pela integração de seus moradores, que às 19h saem apressados para grupos de leitura. Os 12 moradores de Glacier Circle chegam a participar de um ¿grupo de sonhos¿, em que discutem seus sonhos.