Título: MOTORISTA CONTRADIZ DEPOIMENTO DE PALOCCI
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 09/03/2006, O País, p. 5

BRASÍLIA. Uma testemunha ouvida ontem pela CPI dos Bingos deu versão diferente da já apresentada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O motorista Francisco das Chagas Costa, que trabalhou para integrantes da chamada República de Ribeirão Preto sempre que eles iam a Brasília, disse à CPI ter visto o ministro ¿duas ou três vezes¿ numa casa do Lago Sul, bairro nobre da capital, conhecida por funcionar com uma espécie de ¿central de negócios¿ montada por seus ex-assessores na prefeitura da cidade paulista. No dia 26 de janeiro, também em depoimento à CPI, Palocci dissera nunca ter ido à casa.

Francisco disse ter visto o ministro chegar ao endereço sempre acompanhado de Ralf Barquete, que foi seu secretário de Fazenda em Ribeirão Preto. Acusado de arrecadar dinheiro de propina para o caixa dois do PT, Ralf morreu em junho de 2004. De Londres, o ministro voltou a negar que tenha estado na casa, segundo disse o senador Tião Viana (PT-AC).

Já o motorista, que trabalhou para os ex-assessores de Palocci entre 2003 e 2004, disse:

¿ Ele (Palocci) chegava na casa com Ralf, no Peugeot prateado dele (de Ralf). Ia sempre de dia, mas não sei o que fazia.

Bingueiros foram à Fazenda, disse testemunha

O motorista disse também ter testemunhado visita de dois empresários de bingo investigados pela CPI ao Ministério da Fazenda, em 2003. Artur José Valente de Oliveira Caio e José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo, segundo ele, estiveram no edifício acompanhados de Barquete. Os empresários são investigados pelo Ministério Público de São Paulo por suposta doação de R$1 milhão para o PT, em 2002.

¿ Eles (os bingueiros) alugaram um carro grande, acho que uma van, e eu fui acompanhando a comitiva em outro carro, junto com o Ralf ¿ contou.

Ao fim do depoimento, Tião e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) insistiram para que ele confirmasse a presença de Palocci na casa:

¿ Olha no meu olho e diz se foi o Palocci que você viu lá? ¿perguntou Suplicy

¿ Foi ele sim ¿ confirmou o motorista.

Francisco deixou a sala da CPI chorando, assustado com o assédio da imprensa. Ao presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse ter medo de represálias. Mais cedo, ele contara detalhes das festas realizadas na casa, que, segundo ele, contavam com a presença de ¿meninas¿ contratadas pela cafetina Jeany Mary Córner.

¿ Não lembro o nome das meninas, eram muitas.

Assessores tratavam ministro por ¿chefão¿

O motorista foi localizado depois que a CPI encontrou ligações de seus telefones para autoridades do governo federal. Como revelou O GLOBO, Francisco foi usado como laranja e os telefones, na verdade, eram usados por Barquete e Vladimir Poletto, outro ex-assessor do ministro, acusado de transportar dólares que teriam saído de Cuba para o PT. Francisco disse que Poletto e os demais ex-assessores tratavam o ministro pelo apelido de ¿chefão¿.