Título: Sopro novo na CPI
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 07/03/2006, O País, p. 2

Sempre foi dito e sabido que, se houve mensalão, os envolvidos não podem ter sido apenas os 16 apontados à cassação pela CPI dos Correios (Dirceu e Jefferson são casos à parte). Eis que surgem agora, na reta final da CPI, dois fatos novos: teria havido pagamento a 55 peemedebistas e o verdadeiro Roberto Marques que sacou R$50 mil, confundido com o amigo homônimo de José Dirceu, era na verdade o motorista do senador Romero Jucá.

Se a CPI vai começar agora a investigar a existência de mais mensaleiros, poderia fazer também aquilo que nunca fez, embora fosse tão óbvio: quebrar o sigilo de todos os deputados que mudaram de partido a partir do início de 2003. São fortes os indícios de que o dinheiro do valerioduto foi usado muito mais para induzir trocas de partido e com isso engordar a base governista do que para garantir votos ao governo por sistema de varejo, com pagamentos a cada votação. E, no entanto, a CPI nunca se interessou pelas trocas partidárias, que foram tantas e tão intensas no primeiro ano do governo Lula. Concentrou-se na busca de dinheiro público no valerioduto porque isso rende retórica mais dura contra o PT, embora a compra de filiação partidária seja, independentemente da fonte dos recursos, crime mais grave contra a democracia.

Quem põe o PMDB na roda é a reportagem da revista "Veja", lastreada em ameaças que estaria fazendo o publicitário Marcos Valério de revelar sua relação operacional com o ex-deputado José Borba. Único peemedebista que apareceu fazendo saques no Banco Rural, ele renunciou para escapar da cassação. O deputado Gustavo Fruet, sub-relator de movimentação financeira da CPI, estranha:

- Acho que devemos investigar, mas tomando cuidado com a hipótese de chantagem. Se ele (Valério) teve tantas chances de fazer esta acusação, por que estaria levantando este assunto só agora?

Fruet acha que a CPI deve ouvir Borba, Valério e o advogado Roberto Bertholdo, que está preso no Paraná e seria o distribuidor de dinheiro aos peemedebistas. Se forem encontrados dados consistentes, a CPI terá que pedir mais tempo de funcionamento.

O outro fato novo, também apresentado por "Veja", envolve o senador Jucá. Há alguns dias, por sinal, ao soltar boatos sobre novos mensaleiros, membros da CPI falavam do possível envolvimento de um senador. Ontem o ex-motorista de Jucá declarou que foi forçado a gravar a fita em que se apresenta como sendo o verdadeiro Roberto Marques, confundido com Bob, amigo de Dirceu. O senador negou cabalmente o saque de R$50 mil. É muito esquisito mesmo o surgimento de tanta novidade agora, depois de meses e meses de investigação. Mas se a CPI precisa de tempo, deve ser dado. O que ela não pode é deixar dúvidas no ar alegando que não investigou por falta de tempo. A CPI ganha um gás novo embora o oxigênio vá lhe faltar na medida em que a campanha avançar.