Título: Seis ministros devem ser candidatos
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: O Globo, 02/03/2006, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou, ontem, pelo ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, as conversas políticas que definirão quem vai continuar integrando seu governo e quem vai concorrer às eleições de outubro e precisa se desincompatibilizar agora, até 31 de março. Agnelo já anunciou a pretensão de concorrer ao governo do Distrito Federal pelo PCdoB e sonha com uma chapa de esquerda em Brasília, apesar da resistência do PT local. Os demais cenários, contudo, ainda estão indefinidos. Especula-se na saída de pelo menos seis ministros, mas o Planalto ainda não confirma nada. "Qualquer nome que se crave atualmente é fruto do interesse dos atores envolvidos. O presidente Lula não definiu nada", confirmou um assessor próximo do presidente. Segundo fontes do Palácio, Lula vai esperar até o último momento para definir o novo xadrez político, amparado pelo calendário eleitoral. O prazo para desincompatibilização é 31 de março. "A demora interessa aos dois lados. Para o governo, não há descontinuidade nas ações administrativas. Para aqueles que serão candidatos, também é bom, pois continuam com visibildade, já que a campanha eleitoral oficial só se iniciará, para valer, em julho", lembra um assessor governista. A outra audiência prevista para a tarde de ontem acabou não ocorrendo. O Planalto desmarcou a reunião de Lula com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ela é cotada para concorrer ao governo do Acre, caso o senador Tião Viana (PT-AC), irmão do atual governador, Jorge Viana, não possa concorrer. Para que Tião tenha viabilidade eleitoral, é necessária a aprovação de uma emenda constitucional permitindo que detentores de mandatos executivos possam eleger, para sucedê-los, parentes consangüíneos. Diante da possibilidade remota de que essa alteração seja apreciada antes de outubro, caberia a Jorge Viana, caso quisesse insistir na candidatura de Tião Viana, renunciar ao mandato em abril. "Nós só vamos conversar sobre isso em meados de março. A audiência da Marina com Lula era para falar sobre o projeto de gestão das Florestas, que será sancionado amanhã (hoje), " desconversou Jorge Viana. O governador do Acre é um dos cotados para assumir uma vaga na Esplanada e participar de forma mais ativa na coordenação de campanha de Lula. Quem está com o retorno confirmado para a Esplanada é o ex-ministro Tarso Genro. Convidado pelo próprio Lula na semana passada, o ex-presidente do PT não sabe responder que pasta ocupará a partir de abril. "A única certeza é de que eu assumirei uma pasta que participe da coordenação política do governo", confirmou Tarso. Ele nega, contudo, que isso signifique, necessariamente, substituir o atual titular da coordenação, Jaques Wagner. "Diversas pastas participam da coordenação de governo atualmente, eu poderia me encaixar em qualquer uma delas", alegou Tarso. A situação de Jaques Wagner, inclusive, é uma das mais indefinidas. O desejo pessoal é disputar o governo da Bahia, mas Lula reluta em definir a situação do atual responsável pela coordenação política do governo. "Será uma negociação difícil, caso a caso, olho no olho", confirmou um assessor político do Planalto. Para desanuviar o ambiente, Lula rejeitou o rótulo de reforma. A palavra de ordem é substituição. "Reforma pressupõe realinhamento de forças políticas, com vistas a votações no Congresso. Não é o caso. Estaremos substituindo nomes que desejam disputar as eleições deste ano", esclareceu um assessor do governo.