Título: MINISTRO DEPÕE NA PF SOBRE DEPÓSITO PARA VALÉRIO
Autor: Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 07/03/2006, O País, p. 8

Polícia quer saber por que R$507.134 saíram de empresa de Mares Guia para Marcos Valério em 2002

BRASÍLIA. O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, prestou ontem à noite depoimento ao delegado Luiz Flávio Zampronha, da Polícia Federal. O ministro foi ouvido no gabinete dele, na sede do Ministério do Turismo, na Esplanada dos Ministérios. A PF cobrou explicações sobre um depósito de R$507.134 numa das contas bancárias do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, um dos operadores do suposto mensalão, depois de uma negociação com o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

Mares Guia foi chamado para depor no último dia 24, uma sexta-feira, véspera do carnaval. Como tem foro privilegiado, o ministro pôde escolher a data, o horário e o local do depoimento. Segundo a revista "IstoÉ" desta semana, em setembro de 2002 Walfrido sacou R$507.134 da conta da Samos Participações, uma de suas empresas, e depositou o dinheiro numa conta de Valério. A revista divulgou uma cópia do extrato da conta de Valério no qual aparece o registro do pagamento relacionado a Samos Participações.

Assessoria diz que dinheiro pagou dívida de Azeredo

A assessoria de imprensa do ministério nega, no entanto, que Mares Guia tenha repassado dinheiro diretamente ao operador do mensalão. Segundo uma de suas assessoras, o ministro apenas fez um empréstimo no valor mencionado para o senador Azeredo pagar parte de uma dívida com o empresário Cláudio Mourão. O empresário foi o coordenador da campanha de Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998. Segundo a revista, o pagamento seria uma tentativa da campanha de Azeredo de comprar o silêncio de Mourão que, na época, estaria disposto a denunciar o caixa dois do PSDB em Minas.

Segundo o lobista Nilton Monteiro, que atuou em sociedade com Cláudio Mourão, o caixa dois de Azeredo seria de aproximadamente R$100 milhões. Depois das denúncias de Monteiro, Azeredo acabou deixando a presidência do PSDB. Mourão prestou depoimento à CPI dos Correios. Protegido por parlamentares da oposição, o empresário admitiu que parte do dinheiro arrecadado para a campanha não havia sido declarado.

Mensalão: PF vai ouvir servidores

Inquérito volta para o STF, mas polícia quer mais tempo

BRASÍLIA. A Polícia Federal pretende, a partir de agora, apertar o cerco sobre os funcionários públicos que participaram das negociações de estatais com as agências de publicidade do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, um dos operadores do esquema de repasses do PT para parlamentares da base governista. A idéia da polícia é concentrar as investigações sobre a origem do dinheiro que abasteceu o valerioduto. Hoje os autos do inquérito do suposto mensalão serão novamente enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Para a polícia, se quiser, o Ministério Público Federal já dispõe de informações suficientes para denunciar vários dos acusados de envolvimento no esquema. Mas o ideal, segundo um dos encarregados do inquérito, é prorrogar as investigações por, pelo menos, mais três meses. O delegado Luiz Flávio Zampronha considera imprescindível interrogar servidores do Banco do Brasil e dos Correios que tiveram alguma participação nos negócios das duas estatais com as agências de Valério.

A PF também deve aprofundar as análises comparativas entre as auditorias do Tribunal de Contas da União e as perícias que estão sendo feitas pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) sobre a contabilidade das empresas de Marcos Valério. Hoje o delegado Pedro Ribeiro deve interrogar em Curitiba, no Paraná, o advogado Roberto Bertholdo, assessor do ex-deputado e ex-líder do PMDB na Câmara José Borba. Segundo a revista "Veja" desta semana, Bertholdo ajudava Borba a fazer repasses de dinheiro para 55 dos 81 deputados do PMDB da base governista.