Título: Dia de cassação
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 08/03/2006, O País, p. 2

O plenário da Câmara já escapuliu da saia justa que enfrentaria hoje ao julgar no mesmo dia os deputados Roberto Brant (PFL) e Luizinho (PT). O caso de Brant será votado só à tarde e com isso o de Luizinho deve ser adiado. As novas denúncias envolvendo a bancada peemedebista e o senador Romero Jucá podem alterar a disposição do plenário, que era francamente pró-absolvição.

Ontem a oposição começou a a recolher assinaturas para prorrogar a duração da CPI dos Correios, e com isso, abrir investigações sobre as novas denúncias. Esta ameaça de repique da crise e de caça a colegas que tenham recebido do valerioduto pode influir no julgamento dos acusados que ainda serão julgados. É possível que os deputados, para evitar novas degolas resolvam saciar as indignações e as cobranças, dando logo mais carne para os leões. E assim, condenar Brant, Luizinho e os outros que estão na fila das cassações.

O raciocínio corre solto na Casa e era externado ontem por um bom conhecedor do plenário, o deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), relator que pediu a cassação do ex-presidente da Câmara, João Paulo. Havia até quem comparece o movimento ao que no mercado financeiro se chama "fazer hedge". Condenando todos os que foram acusados pela CPI na primeira fase, os deputados estariam protegidos contra pressões e cobranças por mais degola. Nesta altura do ano eleitoral, com a campanha chegando, eles gostam ainda menos de fazer isso.

Mas certo é que pelo menos Roberto Brant será julgado hoje pelo plenário e sua absolvição continua sendo esperada. Ele diz esperar votos a favor até do PT e dos partidos de esquerda. Ontem ele circulou pelo plenário e pelo Salão Verde com tranqüilidade e dispensou seu partido, o PFL, de se bater por sua absolvição. Nem ele mesmo está pedindo votos, apenas conversando sobre o que aconteceu. Em 2004, recebeu uma doação eleitoral da Usiminas através da agência de Marcos Valério. A certa altura da conversa, diz ao interlocutor que ele sabe como é que as coisas funcionam. Ou seja, quem nunca recebeu ajuda eleitoral por baixo do pano que atire a primeira pedra. Inocentado ou cassado, ele não volta à política. Quer outras palavras e atividades em sua vida.

A prorrogação da CPI não será fácil, a base governista resiste e também o conjunto dos deputados, estressados com este assunto de cassar colegas. Eles sabem que se o assunto é caixa dois, procurando a CPI sempre achará. E achando, pedirá mais cabeças.